CEO da Biogen disse que a aquisição cria outro “motor de crescimento”, tendo em vista que a adquirida recentemente teve o Skyclarys, para tratamento da doença rara ataxia de Friedreich, aprovado pela FDA
Por Bloomberg
28/07/2023 16h09 Atualizado há uma hora
A Biogen concordou em adquirir a Reata Pharmaceuticals por US$ 7,3 bilhões, incluindo dívidas, para expandir seus tratamentos para doenças raras em uma de suas maiores aquisições de todos os tempos.
A empresa de biotecnologia, com sede em Cambridge, Massachusetts, nos EUA, pagará US$ 172,50 em dinheiro por cada ação da Reata, informou a companhia por nota, nesta sexta-feira (28). Isso representa um prêmio de 59% em relação ao preço de fechamento da Reata na quinta-feira (27).
A Reata recebeu a aprovação da Food and Drug Administration (FDA, a Anvisa americana) em fevereiro para o Skyclarys, o primeiro tratamento aprovado para a ataxia de Friedreich, uma rara doença hereditária que pode afetar crianças a partir dos cinco anos de idade e causa dificuldade de locomoção e coordenação. O tratamento pode gerar um pico de vendas de US$ 1,5 bilhão, de acordo com as previsões do Barclays.
“Isso nos dá outro motor de crescimento”, disse o CEO da Biogen, Christopher Viehbacher, em uma teleconferência com analistas, acrescentando que o acordo foi fechado “muito rapidamente”. Ele disse que sua empresa seria capaz de comercializar o medicamento com a força de vendas existente da Biogen devido à “enorme sobreposição” entre médicos que atendem pacientes com ataxia de Friedreich e aqueles que tratam atrofia muscular espinhal, onde a Biogen já possui um dos principais medicamentos.
A Biogen planeja financiar o negócio com dinheiro e emitindo dívida. A empresa espera que o acordo aumente os ganhos a partir de 2025.
Transição da empresa
A Biogen está em transição enquanto tenta ampliar seu foco e apresentar um novo crescimento para substituir os medicamentos antigos para esclerose múltipla.
Viehbacher, que assumiu o cargo de CEO no ano passado, prometeu redesenhar a empresa e reduzir sua dependência de pesquisas arriscadas em neurologia sem eliminar a capacidade de buscar doenças graves como o mal de Alzheimer. Ele destacou as doenças raras como uma área de interesse.
O principal produto da Reata é um medicamento para doenças raras e para neurologia. Aprovado em fevereiro, trata uma rara doença neurológica hereditária que aflige cerca de 1 em 50.000 pessoas, de acordo com a FDA.
Como muitos medicamentos para neurologia aprovados recentemente, o Skyclarys teve um caminho complicado para a aprovação. Depois que um estudo intermediário produziu resultados positivos, a Reata disse em novembro de 2020 que poderia ter que realizar outro grande estudo para confirmar os resultados a fim de obter autorização. Mas menos de um ano depois, após se reunir novamente com a FDA, a Reata disse que poderia submeter à aprovação sem um novo estudo.
Depois de entrar com pedido de aprovação no ano passado, Reata disse que o FDA provavelmente convocaria uma reunião de consultores externos para revisar o medicamento, uma medida que a agência frequentemente adota para aplicações complicadas ou controversas. Mas em outubro, após apresentar nova análise, Reata disse que o órgão decidiu não realizar a audiência. Isso abriu caminho para a aprovação.
Vendas em declínio
O negócio está sujeito à aprovação dos acionistas da Reata, com sede em Plano, no Texas, nos EUA, e deve ser concluído no quarto trimestre. Os investidores que detêm 36% do poder de voto das ações ordinárias da Reata concordaram em apoiar o acordo. O blog Betaville escreveu na quinta-feira (27) sobre a especulação do mercado de que Reata havia atraído o interesse de aquisição.
A Biogen não é conhecida por fazer grandes negócios. Em 2013, comprou a participação remanescente no medicamento para esclerose múltipla Tysabri por US$ 3,25 bilhões em dinheiro de seu parceiro Elan Corp. Em 2020, adquiriu uma participação minoritária na Sage Therapeutics.
No início desta semana, a Biogen disse que cortaria 1.000 empregos, ou mais de 11% de sua força de trabalho, e reduziria as despesas operacionais em uma tentativa de lidar com a queda nas vendas de tratamento para esclerose múltipla, sua maior categoria de medicamentos.
A Biogen recebeu a aprovação do FDA no início deste ano para seu medicamento Qalsody para tratar uma forma rara de esclerose lateral amiotrófica, chamada também de doença de Lou Gehrig, que destrói as células nervosas que controlam o movimento muscular voluntário, incluindo a respiração.
A Lazard assessorou a Biogen no negócio, enquanto Reata trabalhou com o Goldman Sachs.
Fonte: Valor Econômico