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Pilar de desenvolvimento sustentável, a bioeconomia será incluída, pela primeira vez, no comunicado final do G20, que reúne as 19 maiores economias do mundo mais a União Africana e União Europeia. Ao liderar as discussões, o governo brasileiro incluiu entendimentos sobre o tema que se associam à nova estratégia nacional. No primeiro semestre do ano que vem, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança Climática vai lançar o Plano Nacional de Desenvolvimento da Bioeconomia, que pretende fomentar as economias da floresta e da sociobiodiversidade.
Os princípios de Alto Nível sobre Bioeconomia, publicados pelos países integrantes do G20 no mês passado, vão além do conceito de recurso biológico, e trazem elementos de sistemas produtivos e conhecimentos tradicionais. Secretária nacional de bioeconomia, Carina Mendonça Pimenta celebrou a posição de países florestais no centro das discussões. País que irá suceder ao Brasil na presidência do G20, a África do Sul afirmou que dará continuidade à agenda no próximo ciclo.
“Foi um avanço significativo e muito importante para os interesses do Brasil. O documento também faz referência a como a bioeconomia vai contribuir para a agenda do clima”, afirma Pimenta, que explica que os princípios formam um marco constitucional para novos passos, como financiamentos e cooperações técnicas. “Um salto bem interessante foi o reconhecimento que o motor da bioeconomia é o uso da tecnologia ligada à natureza”, declara Pimenta.
Em junho, o governo brasileiro publicou o decreto que institui a Estratégia Nacional de Bioeconomia. A futura Comissão Nacional, de formação paritária, será responsável pela construção da Política Nacional de Bioeconomia. Após consultas públicas, a versão final será lançada no primeiro semestre de 2025. O fomento às economias das florestas e da sociobiodiversidade será um eixo. Outro é associar a bioeconomia à restauração e conservação das florestas. Por isso, um dos objetivos da Secretaria Nacional é incentivar hubs no interior da Amazônia, para fortalecer estruturas de pesquisas em áreas prioritárias no combate ao desmatamento e na recuperação de vegetação nativa.
“Como vai fazer restauro em larga escala sem estruturar cadeias de negócio? Aí que entra a bioeconomia. Vamos fortalecer ecossistemas regionais, investindo em parcerias com universidades e logística para produtos”, explica a secretária, que defende ainda ações para facilitar a parceria entre instituições brasileiras e internacionais na Amazônia. “Vamos criar um ambiente favorável, com regulamento claro, e anunciar uma rede de instituições de pesquisa brasileira de excelência em biodiversidade”, diz.
Apesar do crescimento de pesquisas, a Amazônia ainda é um bioma pouco explorado. Segundo o Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético (Sisgen), metade das pesquisas sobre biodiversidade brasileira são sobre a Mata Atlântica. Há 77 mil pesquisas registradas sobre o uso da biodiversidade brasileira, que geram, por exemplo, produtos como medicamentos, alimentos, cosméticos e insumos agrícolas.
Lançada neste ano, a Plataforma Digital da Floresta conecta produtores de bioprodutos amazônicos a compradores de todo o Brasil e é uma das iniciativas que visa acelerar e ampliar esse ambiente de negócios. O projeto, da Fundação Certi, é dividido entre o Vem de Onde, um sistema de rastreamento da origem dos frutos; o BioConex, marketplace para negócios entre cooperativas e compradores; e o BI da Floresta, painel com informações das cadeias da castanha e do açaí, incluindo produção de safra e detalhes de logística.
“Focamos nos atores das cadeias produtivas, para destravar o enorme potencial de mercado. Queremos gerar condições de negociações mais favoráveis para quem está na comunidade, os extrativistas e as cooperativas, que são o elo fraco da cadeia”, afirma Marco Antonio Giagio, diretor geral do Instituto Certi Amazônia, que acrescenta que o projeto oferece assessoria técnica às cooperativas.
O Vem de Onde, em fase piloto, mostra o caminho de um produto desde a sua origem. Cada extração, como de cacau ou açaí, por exemplo, é registrada no sistema, por quantidade, território e período. Assim, a indústria compradora pode associar o lote a um QR Code na embalagem do produto, que pode ser conferido pelo consumidor final.
O BioConex, lançado em janeiro, tem até aqui 25 cooperativas habilitadas de oito cadeias produtivas, como açaí, cacau, castanha e cumaru. A plataforma ainda traz uma central de logística de 2 mil operadores da Amazônia, com fretes para qualquer lugar do Brasil e mecanismos de financiamento ao comprador, com foco nas negociações B2B (de empresas para empresas).
Giagio aposta no mercado de 40 mil indústrias da Amazônia, com destaque às cadeias de cosméticos, fármacos e, principalmente, alimentos e bebidas. “Precisamos aproveitar mais as oportunidades que a Amazônia oferece. Tem que ter muito mais apoio e financiamento, e as políticas públicas precisam considerar as especificidades das cadeias em cada região. Não pode ser uma ação genérica, porque a Amazônia é complexa por natureza”, explica Giagio.
Enquanto o mundo avança na discussão sobre bioeconomia, a Natura já cria seus produtos com base em ativos amazônicos como castanha-do-pará, andiroba, tucumã e ucuuba há quase 25 anos. Em 2011, a empresa criou o Programa Amazônia e instalou uma fábrica de sabonete em barra em Benevides (PA), com centro de pesquisa para identificar e desenvolver novos ingredientes da floresta, em um trabalho próximo às comunidades tradicionais, com garantia de repartição de benefícios e pagamentos para manutenção de preservação através de crédito de carbono.
A empresa ainda implantou 19 minifábricas nas áreas das principais cooperativas parceiras, que fornecem o óleo ou a manteiga extraídos das sementes. Atualmente, há 44 bioingredientes, de cerca de 90 diferentes cadeias de insumo, em um trabalho com 10 mil famílias na Amazônia. Diretora de sustentabilidade da Natura, Ângela Pinhati destaca duas cadeias como exemplos de negócios economicamente vantajosos e que proporcionam a floresta em pé. Um dos ativos mais recentes, segundo ela, é o do tucumã, abundante no Pará, mas subvalorizado até que fosse identificada sua propriedade que estimula a produção de ácido hialurônico no corpo, uma espécie de hidratante natural.
“Enquanto vemos produtos com base química, você encontra ativos na própria natureza. Temos ouro nas mãos com a floresta amazônica”, afirma Pinhati, que também destaca a cadeia da ucuuba, que com suas sementes gera hoje três vezes mais renda às famílias que antes cortavam os troncos para venda de cabos de vassouras. “Materializa como consegue fazer negócio mantendo a floresta em pé. Sem ser filantrópico, é negócio do início ao fim. Imagina o mercado que a bioeconomia pode trazer para esse país”, afirma a diretora da empresa.
O principal ativo da Ambev na Amazônia é o guaraná. Desde 1971 a empresa mantém a Fazenda Santa Helena, que produz cerca de 20 mil mudas por ano na cidade de Maués (AM), conhecida como a Terra do Guaraná. Em 2017, foi criada a Aliança Guaraná Maués, para melhorar a qualidade de vida e aproximar as relações com a população local, em especial os agricultores tradicionais, indígenas e outros atores envolvidos direta ou indiretamente na cadeia.
“A sustentabilidade sempre fez parte do DNA da Ambev, e incluir discussões como essas no G20 abre ainda mais portas”, celebra Sumayra Leão, gerente fabril da Ambev. “Estamos falando de benefícios para todo o ecossistema e para o planeta. O campo, o agro e as florestas são essenciais para a vida”, afirma.
Fonte: Valor Econômico