Por Ricardo Bomfim — De São Paulo
14/12/2022 05h02 Atualizado há 35 minutos
A Binance, maior corretora de criptomoedas do mundo, sofreu saques líquidos de US$ 3,7 bilhões em tokens na última semana, em meio a um movimento dos investidores na direção da custódia própria, tirando criptoativos das corretoras e colocando-os em carteiras digitais. O mercado tem olhado com desconfiança para plataformas centralizadas de negociação desde a quebra da exchange FTX.
O presidente da Binance, Changpeng Zhao, foi ao Twitter para acalmar investidores a respeito dos saques. De acordo com o empreendedor, os saques líquidos chegaram a US$ 1,14 bilhão na terça-feira, mas ele argumenta que isso é natural nos negócios. “Na verdade, acho que é uma boa ideia fazer esses testes de estresse em cada exchange centralizada de forma rotativa”, disse.
Em nota, a Binance informou ao Valor que “os ativos do usuário na Binance são todos lastreados [na proporção] 1:1 e a estrutura de capital da Binance não tem dívidas. Mantemos saldos em carteiras quentes, conectadas a uma rede, para garantir que sempre tenhamos fundos mais do que suficientes para atender às solicitações de saque e, conforme necessário, recompomos os saldos destas carteiras”.
À Bloomberg, Alex Svanevik, CEO da Nansen, afirmou que os fluxos de saída ainda são pequenos considerando o tamanho das reservas da Binance, mas que, diante de tudo o que aconteceu nos últimos tempos, é normal que muitos estejam com uma “postura cautelosa”. A preocupação ocorre porque, depois de revelados problemas de alavancagem e solvência da FTX, a corretora sofreu uma “corrida” e não teve recursos para devolver o dinheiro dos correntistas.
Outro fator que causou ruído no mercado nos últimos dois dias foi uma notícia da Reuters afirmando que o Departamento de Justiça dos EUA conduz uma investigação contra a Binance desde 2018 para apurar se a exchange violou leis de combate à lavagem de dinheiro ou desrespeitou sanções impostas pelo governo. Sobre a notícia, a Binance diz que os reguladores estão fazendo uma “revisão abrangente” da atuação das empresas do setor. A exchange diz ainda que desde o final de 2021 construiu uma equipe robusta de segurança e investigações para impedir ilícitos.
A incerteza e o ruído provocados por essas notícias são chamados popularmente no mundo das criptomoedas de FUD, sigla em inglês para “medo, incerteza e dúvida”.
Segundo Orlando Telles, analista e fundador da Mercurius Crypto, a notícia sobre a investigação contra a Binance dá sinais de ser um desses episódios. “É uma informação que realmente existe, mas que não deveria impactar tanto o mercado”, afirma.
Depois da conclusão da primeira versão desta reportagem, a Binance enviou nota afirmando que passou pelo teste de estresse com facilidade após a reportagem da Reuters. “Passamos por este teste de estresse extremo porque executamos um modelo de negócios muito simples: manter os ativos sob custódia e gerar receita com as taxas de transação”, afirmou, acrescentando que conduzir adequadamente uma prova de reservas em custódia é um processo complexo, novo e exclusivo do setor, que requer diferentes graus de verificação interna e por terceiros na blockchain, em comparação a instituições financeiras tradicionais.
Fonte: Valor Econômico

