Por Valor — São Paulo
26/09/2023 16h13 Atualizado há 20 horas
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, se tornou o primeiro mandatário americano em exercício a se unir a uma greve de trabalhadores. Nesta terça-feira (26), Biden esteve em um piquete do sindicato United Auto Workers (UAW), em greve há 12 dias contra as condições de trabalho em montadoras de carros. A demonstração de apoio do presidente aos trabalhadores organizados é algo inédito no país.
Biden foi ao evento no Estado de Michigan e afirmou que os trabalhadores do setor automotivo em greve merecem um “aumento salarial significativo”.
Deputados aparecem frequentemente em greves para mostrar solidariedade com os sindicatos. Biden juntou-se a piquetes com trabalhadores de cassinos em Las Vegas e trabalhadores automotivos em Kansas City, enquanto era pré-candidato democrata para as eleições de 2020. Mas presidentes em exercício, que têm de equilibrar os direitos dos trabalhadores com os impactos na economia, nas cadeias de abastecimento, ficavam fora do embate, até Biden.
“Isso é absolutamente sem precedentes. Nenhum presidente jamais fez”, disse Erik Loomis, professor da Universidade de Rhode Island e especialista em história trabalhista dos EUA.
Vestindo um boné do sindicato e com um megafone nas mãos, o presidente democrata de 80 anos se dirigiu aos trabalhadores do UAW e disse “reconhecer os sacrifícios” que fizeram para salvar a indústria em 2008. Biden incentivou os grevistas a continuarem lutando pelo aumento, apesar dos temores de que uma paralisação prolongada possa impactar a economia.
Uma das demandas dos trabalhadores é um aumento de 40%. Após as palavras de Biden, os trabalhadores gritaram “sem acordo, sem carros”. “Obrigado, senhor presidente, por vir aqui e nos apoiar em um momento decisivo para a nossa geração”, disse o presidente do UAW, Shawn Fain. “Nós fazemos o trabalho pesado, nós fazemos o trabalho real, não os CEOs”, acrescentou.
Após o discurso do líder sindical, Biden retomou o megafone para falar: “Não foi Wall Street que construiu esse país, foi a classe média”.
5% do PIB
Com cerca de 10 milhões de empregos, o setor automotivo é um ator fundamental na economia dos EUA que corre o risco de sofrer os efeitos da greve nas montadoras Ford, GM e Stellantis.
O setor gera US$ 1 trilhão para a economia americana por ano, cerca de 5% do PIB (Produto Interno Bruto). No fim de 2022, o setor empregava diretamente mais de 9,67 milhões de pessoas.
De acordo com o Escritório de Estatísticas do Trabalho dos EUA, o salário médio por hora no setor de manufatura em agosto de 2023 foi de US$ 27,99 por uma média de 44,3 horas de trabalho semanal.
Historiadores que estudam movimentos trabalhistas nos EUA dizem que não se lembram de um caso em que um presidente em exercício tenha aderido a uma greve em curso, mesmo durante os mandatos dos presidentes mais pró-sindicatos, como Franklin Roosevelt e Harry Truman.
Theodore Roosevelt convidou líderes trabalhistas juntamente com operadores de minas para a Casa Branca em meio a uma histórica greve do carvão em 1902, decisão vista. na época. como uma rara aceitação dos sindicatos, enquanto Roosevelt tentava resolver a disputa.
Biden foi a Michigan um dia antes de o ex-presidente e pré-candidato republicano à presidência Donald Trump. Na quarta-feira (27), Trump vai a Detroit realizar seu próprio evento na tentativa de se aproximar dos trabalhadores do setor automotivo, embora os líderes sindicais digam que ele não é um aliado.
Fonte: Valor Econômico

