Por Martin Arnold, Colby Smith e Chris Giles — Financial Times, de Sintra, Washington e Londres
30/06/2022 05h04 Atualizado há 5 horas
Os principais banqueiros centrais do mundo alertaram ontem que a era dos juros baixos e da inflação moderada chegou ao fim depois do “grande choque geopolítico” da invasão da Ucrânia pela Rússia e da pandemia do coronavírus. Na conferência anual do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, sua presidente, Jerome Powell, do Federal Reserve (Fed), e Andrew Bailey, do Banco da Inglaterra (BoE), pediram ação rápida para conter a inflação.
Eles disseram que não aumentar as taxas de juros com a rapidez suficiente é algo que poderá permitir que a inflação alta se solidifique e, em última análise, exigir medidas mais drásticas dos bancos centrais para trazer o aumento dos preços de volta a níveis mais moderados.
“É bastante provável que o processo seja um pouco doloroso, mas o pior problema seria não conseguir enfrentar essa inflação alta e permitir que ela se torne persistente”, disse Powell.
Falando em Sintra, Portugal, os presidentes dos bancos centrais disseram que a pandemia e a guerra na Ucrânia estão revertendo muitos dos fatores que levaram a mais de uma década de inflação ultrabaixa na maior parte das economias desenvolvidas. Eles alertaram que a fragmentação da economia mundial em blocos concorrentes poderá romper as cadeias de suprimentos, reduzindo a produtividade, aumentando os custos e diminuindo o crescimento.
“Acho que não voltaremos a esse cenário de inflação baixa”, disse Lagarde. “Há forças que foram liberadas como resultado da pandemia e do grande choque geopolítico, que vão mudar o quadro e o cenário em que operamos.”
“Alguns afirmam que o lugar onde você fabrica ou o lugar de onde presta serviços será decidido por fatores diferentes além do custo”, acrescentou a presidente do BCE. Se certos locais forem politicamente “amigos ou inimigos” é algo que provavelmente será relevante, acrescentou ela.
Powell disse que essa mudança de dinâmica forçará uma mudança de pensamento sobre como os bancos centrais operam, uma vez que o cenário de inflação baixa “parece ter desaparecido agora”.
“Estamos vivendo com forças diferentes agora e precisamos pensar na política monetária de uma maneira muito diferente”, disse ele. Prever a inflação nesse ambiente se tornou uma tarefa muito mais desafiadora, acrescentou o executivo. “Entendemos melhor agora o quão pouco entendemos sobre a inflação.”
Bailey disse que houve uma “mudança radical” na maneira como as economias funcionam e no Reino Unido a covid-19 está “deixando um legado estrutural nos mercados de trabalho e na maneira como nos comportamos”, com menos empregos e riscos maiores de aumentos salariais excessivos.
Lagarde disse que a guerra na Ucrânia está atingindo a Europa mais duramente do que a maior parte das outras regiões, na forma de preços maiores da energia e dos alimentos, o que significa que o continente “não está na mesma situação” dos EUA e outros países.
Mas alertou que “o que acontece na frente de energia e o que acontece na frente de batalha” vai afetar as expectativas de inflação. Isso poderia exigir que o BCE mude de sua atual postura “gradual” no aumento das taxas de juros – começando com um aumento de 0,25 ponto em julho – para uma orientação política “mais determinada”.
Powell prometeu impedir que “um regime de inflação mais alta” se estabeleça nos EUA, ressaltando a disposição do Fed de aumentar rapidamente os juros este ano. O banco central americano recorreu a medidas usadas pela última vez há mais de 30 anos, aumentando as taxas de juros em 0,75 ponto porcentual neste mês, para levar o juro básico a uma meta de 1,5% a 1,75%.
As autoridades sinalizaram um outro aumento dos juros na próxima reunião de política monetária, em julho, com a taxa básica devendo alcançar cerca de 3,5% até o fim deste ano.
Lagarde disse que a economia da Europa também está sendo afetada por uma mudança de gastos mais altos com bens durante a pandemia, para mais gastos com serviços como turismo e viagens, que estão sustentando o crescimento da zona do euro, mas também criando “uma série de choques” que alimentam pressões extras sobre os preços.
A presidente do BCE afirmou que os bancos centrais e os governos não estão mais trabalhando “de mãos dadas” como fizeram durante a pandemia. Em vez disso, agora é importante que a política fiscal se torne mais “direcionada” e “sustentável”.
Fonte: Valor Econômico
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