Por Anna Wong — Bloomberg
27/06/2022 05h02 Atualizado há 7 horas
Quando os presidentes dos bancos centrais dos Estados Unidos, da zona do euro e do Reino Unido trocarem opiniões na quarta-feira, as reprimendas feitas por políticos ainda estarão reverberando em seus ouvidos. Na semana passada, o presidente do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), Jerome Powell, era alertado por parlamentares democratas para que não se arriscasse com uma recessão, recado também já recebido pela presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde.
Por sua vez, o Banco da Inglaterra, chefiado por Andrew Bailey, foi acusado recentemente de ter sido pego “despreparado” pela inflação. Os três serão vistos juntos no encontro anual do BCE na estância turística portuguesa de Sintra, em um suposto retiro, mas que dificilmente possibilitará que fujam muito do assunto.
Enquanto cada um deles tenta domar os preços, eles sabem que, a cada passo, correm o risco de ter algum impacto sobre os eleitores que poderia deixar seus pares políticos irriquietos. O equilíbrio entre controlar a inflação e desacelerar o crescimento domina as mentes no atual momento e provavelmente será um tópico recorrente na reunião do BCE, cujo foco serão os “desafios para a política monetária num mundo em rápida transformação”.
Uma análise do Goldman Sachs sugeriu que o BCE pode estar menos propenso a hesitar em aumentar os juros, apesar de seus técnicos ainda nem terem começado a elevá-los. Na sexta-feira, Lagarde garantiu aos líderes europeus que ela e seus colegas tomarão as medidas necessárias. Mas as manifestações sobre o que resultará disso são díspares. Por exemplo, Ernest Urtasun, um espanhol do Parlamento Europeu, já alertou Lagarde quanto aos riscos de um fracasso. “Nosso medo é que o BCE não consiga controlar a inflação com taxas de juros mais altas, e que você possa desencadear uma recessão”, disse.
Com “defasagens longas e variáveis” entre as mudanças na política monetária e seu impacto na economia real, o pico dos aumentos das taxas do Fed provavelmente ocorrerá no segundo semestre de 2023. É quando prevemos o impacto de uma recessão, aponta a Bloomberg Economics”
Em outras frentes, uma provável alta no indicador de inflação mais acompanhado pelo Fed, outra leitura recorde na inflação da região do euro, o relatório anual do Banco de Compensações Internacionais e a ata da última reunião do Banco do Japão deverão manter os investidores em alerta. Os bancos centrais da Suécia e da Colômbia também podem elevar os juros.
Entre os anúncios de dados dos EUA ainda por vir estão os números do termômetro da inflação preferido do Fed. Economistas projetam que o índice de preços de despesas pessoais (PCE, na sigla em inglês) teve aceleração em maio em relação ao mês anterior, sinal de que a inflação continua aquecida. Os números ajudarão a balizar as discussões no encontro de política monetária do Fed de julho quanto à necessidade de outro aumento de 75 pontos-base nos juros referenciais diante do cenário inflacionário. O banco central precisa equilibrar-se em uma linha tênue, domando as pressões inflacionárias, mas sem suprimir exageradamente a demanda e, com isso, desencadear uma desaceleração econômica mais forte.
O relatório do PCE também deve mostrar que os gastos pessoais, ajustados pela inflação, diminuíram em maio, indicando que os altos preços podem estar começando a pesar na demanda das famílias. Outros indicadores, como os de pedidos de bens duráveis, de confiança do consumidor e a pesquisa sobre a atividade industrial, devem mostrar uma economia moderando o ritmo.
Hoje o Banco do Japão divulga detalhes das discussões de sua reunião de junho, o que deverá ajudar a esclarecer a decisão de manter as taxas em níveis baixíssimos, apesar do iene muito mais fraco e da onda de aperto monetário que varre o mundo. Números saindo no mesmo dia provavelmente mostrarão que o BoJ se aproxima de uma participação de 50% no mercado de títulos do Japão, uma vez que tenta defender o teto dos rendimentos. (Tradução de Sabino Ahumada)
Fonte: Valor Econômico

