Gestores de reservas dos bancos centrais estão cada vez mais preocupados com os níveis “insustentáveis” da dívida pública. Eles acreditam que isso pode provocar um aumento dos custos dos empréstimos em um ano cheio de eleições.
Uma pesquisa feita pelo UBS em todo o mundo revela que 37% dos gestores de bancos centrais afirmaram que os riscos decorrentes dos níveis da dívida soberana mundial estavam entre suas principais preocupações com relação à economia mundial este ano, o que significa um salto em comparação com os 14% que responderam a mesma coisa no ano passado.
O aumento da preocupação reflete o fato de que este ano a dívida pública mundial chegou ao recorde de US$ 91,4 trilhões, de acordo com o Instituto de Finanças Internacionais. A dívida mundial como proporção do Produto Interno Bruto (PIB) está a ponto de voltar para a casa de mais de 100% pela primeira vez desde o auge da pandemia de covid-19.
“O nível da dívida já vem aumentando há algum tempo, mas até o momento não observamos nenhuma preocupação real… Na verdade, foi só nos últimos seis meses que a preocupação dos gestores de reservas cresceu […] provavelmente porque estamos em um ano eleitoral e o Fundo Monetário Internacional (FMI) tornou-se mais assertivo”, disse Max Castelli, chefe de mercados soberanos mundiais do UBS Asset Management.
“Uma dívida maior é vista como algo que leva a custos de tomada de crédito mais altos. E existe o risco de que o investimento privado perca espaço, o que afetaria o crescimento de maneira negativa”, acrescentou ele. O UBS entrevistou 40 gestores de reservas de bancos centrais, que supervisionam trilhões de dólares em ativos.
No mês passado, o FMI fez um apelo aos Estados Unidos para que resolvam “urgentemente” seu déficit orçamentário crescente. O Fundo criticou as propostas tributárias de campanha dos dois candidatos à Presidência nas eleições de novembro e alertou para os custos de financiamento mais altos e o risco cada vez maior para uma rolagem suave das dívidas a vencer.
Quase três quartos dos gestores de bancos centrais entrevistados pelo UBS afirmaram que a inflação persistente e o aumento das taxas de retorno de longo prazo são grandes preocupações. Um quarto previu que a taxa de inflação anual dos EUA chegaria a algo entre 3% e 4% até junho do ano que vem – percentual significativamente superior à meta de 2% do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Em maio a inflação nos EUA foi de 3,3%, bem abaixo do pico de 9,1% registrado em junho de 2022, e os operadores dos mercados de swap apostam que o Fed começará a baixar as taxas de juro em setembro ou novembro.
“Ainda não existe disposição entre os políticos para começar a lidar com a sustentabilidade da dívida pública”, disse Castelli. “Em uma ponta, temos a política monetária concentrada em reduzir a inflação e no aperto, mas na outra ponta a política fiscal continua relaxada, o que torna mais difícil levar a inflação para a meta.”
Quando indagados sobre o impacto econômico das próximas eleições presidenciais dos EUA, três quartos dos gestores de reservas consideraram mais provável que o país tenha níveis de déficit público maiores com Donald Trump do que com o presidente Joe Biden ou outro membro do Partido Democrata.
Além disso, 83% dos entrevistados disseram que um governo Trump seria mais inflacionário, impulsionado pelas promessas de cortes de impostos e de tarifas altas sobre as importações da China. Isso aumentaria a pressão sobre o déficit orçamentário dos EUA, que deve chegar a US$ 1,9 trilhão este ano (cerca de 7% do PIB), segundo o Escritório de Orçamento do Congresso.
Segundo a pesquisa, a proporção de gestores preocupados com o uso das reservas cambiais como “arma” também cresceu de maneira acentuada este ano, depois da decisão de utilizar os lucros dos ativos congelados da Rússia para financiar a Ucrânia, o que enfraquece o status das reservas cambiais como um porto seguro.
“Há muita preocupação sobre a mudança de congelamento de bens para confisco de bens”, afirmou Castelli. “Percebemos algum sinal de enfraquecimento do dólar na arquitetura financeira mundial? A resposta é não. Mas observamos uma desaceleração na alocação para yuans.”
Fonte: Valor Econômico

