Índices inflacionários mais brandos nos Estados Unidos e uma crescente preocupação com o mercado de trabalho estão levando bancos a rever suas projeções de quando será a primeira redução nas taxas de juros americanas e a intensidade dos cortes.
O UBS, por exemplo, adiantou a projeção do primeiro corte para setembro. Anteriormente, o banco havia previsto o início do afrouxamento monetário em dezembro. Agora, o banco suíço prevê dois cortes em 2024, em setembro e dezembro, ambos de 0,25 ponto percentual.
Segundo o economista do UBS Jonathan Pingle, a queda expressiva da inflação de moradia do índice de preços ao consumidor (CPI) provocou a revisão. “O reconhecimento do presidente do Federal Reserve [Fed, o banco central americano], Jerome Powell, da desaceleração econômica em curso enfatizou os riscos crescentes para a expansão do mercado de trabalho”, disse.
A expectativa é que Powell deixe a comunicação dos próximos passos do Fed mais clara durante entrevista a ser concedida na segunda-feira ao empresário David Rubenstein na Bloomberg. Recentemente, Powell disse que a inflação não era o único risco para a política monetária, o que Pingle considera uma mensagem importante para seus colegas do Fed sobre a situação do mercado de trabalho, que mostra sinais crescentes de desaceleração. Ao mesmo tempo, segundo ele, a queda na inflação de moradia deve elevar a confiança de que o progresso do índice de preços de gastos com consumo (PCE) deverá continuar no fim do ano e no próximo.
Já o Citi afirma que, se a taxa de desemprego de julho subir de 4% para 4,1%, o Fed poderá cortar os juros em 0,50 ponto percentual na reunião de setembro, e não apenas em 0,25 ponto, como o mercado projeta. Segundo o economista-chefe para os EUA do banco, Andrew Hollenhorst, a preocupação não são os 4,1%, mas o ritmo de crescimento de 0,1 ponto percentual em três meses consecutivos, algo que geralmente precede recessões. “Se a taxa de desemprego continuar subindo e atingir 4,3% em agosto, a regra de Sahm será acionada com a média móvel de três meses subindo 0,5 ponto de sua mínima”, disse.
A regra de Sahm é um modelo segundo o qual, quando a média móvel de três meses da taxa de desemprego supera em 0,5 ponto a taxa mínima de desemprego em 12 meses, o gatilho da recessão é acionado. Segundo Hollenhorst, se o desemprego continuar subindo e a inflação seguir benigna, ou o Fed realizará um corte de 0,50 ponto em setembro ou dará sinais fortes de que irá cortar em novembro e nas reuniões subsequentes.
O Fundo Monetário Internacional afirmou, em relatório divulgado nesta semana, que seria prudente para o Fed esperar evidências mais claras de que a inflação está retornando de forma sustentável para 2%, o que aconteceria apenas no fim do ano. A mesma afirmação foi feita pelo candidato republicano à presidência Donald Trump em recente entrevista. Segundo ele, um corte nos juros tem que ser feito apenas após as eleições de novembro porque, se feito antes, daria “impulso à economia e ao candidato democrata”.
Fonte: Valor Econômico

