Por Gabriel Caldeira e Roberta Costa, Valor — São Paulo
14/09/2023 09h46 Atualizado há 13 horas
Na tentativa de domar as pressões inflacionárias, ao mesmo tempo em que começa a se deparar com uma desaceleração da atividade econômica, o Banco Central Europeu (BCE) efetuou o décimo aumento consecutivo nas taxas de juros da zona do euro, que atingiram o maior nível da história. Com uma alta de 0,25 ponto percentual, a taxa de juros de referência, a de depósito, atingiu 4%, enquanto a taxa de refinanciamento subiu para 4,5% e a de empréstimos alcançou 4,75%.
E, com os juros em níveis recordes, o BCE indicou que continuará a seguir uma abordagem “dependente dos dados”, mas deu sinais relativos a um possível encerramento do ciclo de aperto monetário. “Com base na sua atual avaliação, o conselho do BCE considera que as taxas de juros atingiram os níveis que — se forem mantidos durante um período suficientemente longo — darão contribuição substancial para o retorno oportuno da inflação à meta”, aponta a autoridade monetária no comunicado da decisão.
No entanto, durante coletiva de imprensa, a presidente do BCE, Christine Lagarde, evitou cravar o fim do ciclo de aperto nos juros europeus. “Alguns membros não tiraram as mesmas conclusões e teriam preferido fazer uma pausa”, afirmou a dirigente, ao apontar, ainda, que houve uma “sólida maioria” no conselho do BCE favorável à alta nos juros efetuada nesta quinta-feira. Ela enfatizou que o BCE não pode concluir que os juros atingiram o pico na zona do euro e, assim, destacou uma abordagem dependente de dados.
Um dos pontos levantados por Lagarde durante a coletiva foi o de que a transmissão do aperto monetário tem ocorrido adequadamente e até de forma mais rápida do que em ciclos anteriores de elevação das taxas. O BCE reduziu sua projeção de crescimento deste ano de 0,9% para 0,7% e cortou a estimativa para a expansão da economia da zona do euro em 2024 de 1,5% para 1,0%. Já em relação à trajetória da inflação, o banco central deixou inalterada a previsão de que o núcleo de inflação terminará este ano em 5,1%, mas diminuiu de 3,0% para 2,9% a projeção para o núcleo inflacionário em 2024.
“As medidas de inflação subjacente começaram a cair”, apontou Lagarde em seus comentários, onde também destacou que a demanda mais fraca é um risco baixista para a inflação, embora a maioria das pressões inflacionárias continue forte na área do euro. Além disso, a dirigente ressaltou que os riscos altistas para a inflação incluem os custos de energia e de alimentos, o que levou o BCE a elevar sua estimativa para a inflação “cheia” de 5,4% para 5,6% neste ano e de 3,0% para 3,2% em 2024.
No mercado, a decisão do BCE teve reação imediata nos preços dos ativos assim que o comunicado foi divulgado. O euro chegou a cair a US$ 1,0628, nos menores níveis desde março. Ao mesmo tempo, os rendimentos dos títulos públicos dos países da zona do euro despencaram, com a taxa do Bund alemão de dez anos negociada a 2,596% (-0,059 ponto percentual); e o rendimento do BTP italiano de dez anos a 4,345% (-0,112 ponto).
Diante da visão de juros altos por um período prolongado pregada pelo próprio BCE, a discussão entre os agentes de mercado começa a ser a de quando a autarquia conseguirá começar a flexibilizar a política monetária.
“Embora Lagarde não tenha deixado a porta para um aperto maior, isso provavelmente exigiria surpresas significativas no fluxo de dados, especialmente nas medidas de inflação subjacente”, diz o economista Sven Jari Stehn, do Goldman Sachs, que espera um início de cortes de juros na zona do euro no quarto trimestre de 2024.
Visão semelhante é defendida pelo economista Greg Fuzesi, do J.P. Morgan, que vê o início das reduções nos juros no último trimestre de 2024. “A sugestão clara de que o BCE está agora concentrado no período em que a taxa permanecerá nos 4%, em vez de em novos aumentos, foi bastante forte”, diz.
Fonte: Valor Econômico

