Por Arthur Cagliari — De São Paulo
25/05/2022 05h03 Atualizado há 6 horas
Os integrantes do Banco Central Europeu (BCE) têm dado sinais de que a autoridade monetária da zona do euro deve elevar as taxas de juros neste ano, já no encontro de julho. Na Live do Valor, André Duarte, economista da gestora Occam e professor da PUC-Rio, disse que, depois de elevar os juros, o BC europeu vai demorar para voltar ao atual patamar, em que a taxa de depósito encontra-se em território negativo.
“Os juros negativos foram excepcionais no momento em que se tinha muito medo na zona do euro de entrar em uma espiral deflacionária. Com a inflação hoje a 8%, o medo de deflação parece algo bem estranho. Mas na década passada havia essa preocupação, e isso foi o que motivou os bancos centrais a manter as taxas negativas”, disse Duarte. “Pode até voltar para esse cenário, mas isso é um processo demorado. A inflação de serviços é algo que demora a cair. Então há sustentação para os juros ficarem mais altos.”
O economista pontuou também outros fatores para projetar taxas de juros mais elevadas no longo prazo, como a mudança de paradigma das cadeias globais de valor e a transição energética, ambas causando um aumento natural dos preços e mantendo a inflação alta. Antes, segundo o economista, as cadeias estavam focadas em serem baratas e eficientes, mas a pandemia mostrou que elas não eram resilientes. “O mundo mudou, e muitos países e empresas estão reavaliando ter cada componente produzido em uma parte do mundo. A tendência da próxima década é ver, por exemplo, os Estados Unidos colocarem mais fábricas no México e tirando da Ásia, e a Europa investindo mais no Leste Europeu. Isso, porém, implica custos e não é bom para preços.”
Já no caso da agenda de transição energética, Duarte lembra que há um custo de substituição, na construção de parques eólicos e solares. “Esse movimento será caro. Na Europa, antes da guerra na Ucrânia, os preços de energia já estavam extremamente elevados porque essa transição tem custo, e esse custo reflete em inflação mais alta.”
Em relação ao mercado acionário, os bancos europeus, que têm forte peso nas bolsas da região, podem ser menos impactados caso o aperto monetário do BCE ocorra sem gerar uma recessão ou causando uma recessão suave, na avaliação do economista da Occam. “Os bancos têm mais dificuldade em recessões mais sérias porque começa a haver mais desconfiança sobre o retorno do crédito que foi concedido.”
Fonte: Valor Econômico

