O Banco Central (BC) passou a projetar um crescimento mais alto do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano — a estimativa foi de 1,9% para 2,3% —, inflação maior para 2024 e 2025, além de uma expansão do crédito em um ritmo mais acelerado. As estimativas foram revisadas no Relatório de Inflação.
Leia mais:
De acordo com a autoridade monetária, a chance de a inflação estourar o teto da meta subiu de 19% para 28% neste ano e de 17% para 21% no próximo. O aumento vem em meio a um cenário de piora nas expectativas do mercado.
A previsão do BC para o IPCA neste ano subiu de 3,5% para 4%. Para 2025, passou de 3,2% a 3,4%, e se manteve estável em 3,2% no ano seguinte. A meta é de 3% com piso de 1,5% e teto de 4,5%. “O aumento da projeção de inflação no horizonte relevante resultou principalmente da atividade econômica mais forte que o esperado, que levou a uma elevação no hiato do produto estimado, mas foi contido pela subida da taxa de juros real”, diz o relatório.
Após a divulgação, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou que o sistema de meta contínua de inflação, estabelecido em decreto nesta semana e válido a partir de 2025, não é uma mudança na forma como se enxerga a política monetária. “Não significa nem maior, nem menor suavização”, afirmou.
Nas perspectivas para a economia, o documento mostra elevação da projeção para o grupo de atividades mais cíclicas e redução para os demais.
Para o segundo trimestre, a expectativa é de desaceleração, em parte considerando os impactos do desastre climático no Rio Grande do Sul. Já para o segundo semestre o relatório diz que o crescimento deve refletir o ritmo potencial da economia, os efeitos defasados da redução dos juros e “um aumento da demanda e da produção relacionados à recuperação do capital perdido e à recomposição de bens e estoques no RS”.
No caso do Rio Grande do Sul, o BC fez um estudo que indica uma queda expressiva do nível de atividade, mas com sinais de retomada em andamento. Os resultados indicam uma priorização do consumo de bens básicos em maio e, “nos primeiros dias de junho, já é possível verificar altas expressivas nos volumes recebidos pelos setores de ‘móveis e eletrodomésticos’ e ‘material de construção’ no RS, indicando que as famílias estão direcionando recursos para readequar suas moradias”.
O BC deu mais detalhes sobre as mudanças no hiato do produto, medida de ociosidade na economia. A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) já informava que o indicador havia passado de “levemente negativo” para “em torno da neutralidade”. Dessa maneira, o relatório mostrou que o hiato estimado no segundo trimestre é de 0% frente a –0,4% no trimestre anterior. A mudança refletiu, principalmente, as “significativas surpresas” na atividade.
Nesse cenário, o crédito deve se expandir mais do que se esperava. No relatório, a previsão da autoridade monetária para o saldo de operações passou a ser de um crescimento de 10,8% neste ano, contra 9,4% anteriormente. Se a projeção se concretizar, o crédito direcionado deve subir 12% e não 10% como antes esperado. Já o livre subiria 10%, acima dos 8,9% projetados antes.
O mercado de trabalho continua aquecido, segundo o BC, “ainda mais nos meses recentes”. O relatório destacou a alta na geração líquida de empregos formais e a persistência de um crescimento intenso dos rendimentos reais. Em vários momentos, o Banco Central pontuou que os indicadores indicavam um aperto no mercado de trabalho.
O BC também revisou seus cálculos do juro real, que considera a taxa descontada a inflação do período. Para 2024, a taxa passou de 5% para 6%; para 2025, foi de 4,8% a 5,4%; e para 2026, de 4,8% a 5,3%. Em todos os casos, está acima da taxa de juros real neutra utilizada nas projeções pelo BC, que foi elevada de 4,5% para 4,75%. A taxa neutra é a que não estimula nem contrai a economia.
Ao comentar sobre o câmbio, o presidente do Banco Central reiterou que as intervenções da autoridade têm de ser causadas por alguma disfuncionalidade nesse mercado. Câmbio disse entender que o real apresentou desvalorização recentemente, “está em linha com algumas outras variáveis que também simbolizam o preço de risco Brasil”. Ele mencionou juros longos, o “prêmio longo” pode ser observado, por exemplo, na NTN-B de prazos longos “Foram movimentos compatíveis”, disse.
Sobre o horizonte relevante da política monetária, o diretor de política econômica do BC, Diogo Guillen, disse que essa definição é atribuição da própria autoridade, e depende, entre outras coisas, da natureza dos choques e dos mecanismos de transmissão.
Fonte: Valor Econômico

