Por Estevão Taiar e Alex Ribeiro, Valor — Brasília
21/12/2023 12h15 Atualizado há 9 horas
O Comitê de Política Monetária (Copom) pode sinalizar, por ora, reduções de 0,5 ponto percentual da taxa básica de juros, a Selic, apenas para as duas próximas reuniões, afirmou nesta quinta-feira o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto. Em entrevista coletiva para comentar o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), ele destacou mais de uma vez que a queda da inflação está acontecendo como era calculado pela autoridade monetária. Mas, segundo o presidente, o Copom não tem informações suficientes neste momento para traçar cenários além dos dois primeiros encontros de 2024.
“Hoje, com as variáveis que nós temos, entendemos que o mais apropriado é o ritmo de 0,5 [ponto percentual], e as próximas reuniões [mencionadas na comunicação oficial do Copom] significam as duas próximas reuniões”, disse Campos.
Na reunião da semana passada, o colegiado cortou a Selic de 12,25% para 11,75% ao ano, sempre em termos anuais. Além disso, afirmou que, “se confirmado o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões”. O Copom vem reforçando a importância de manter a “política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”.
Nesta quinta, Campos citou fatores que o colegiado vem observando de perto para decidir sobre a condução da política monetária: a inflação de serviços, que desde a reunião anterior do “melhorou e está dentro da expectativa”; projeções de inflação, tanto do mercado quanto do próprio Banco Central, que de maneira geral “não mudaram quase nada” e continuam acima das metas; balanço de riscos, em que o Copom faz uma análise mais subjetiva dos riscos de a inflação ficar acima ou abaixo do projetado e que neste momento mostra “neutralidade”; hiato do produto, uma medida de ociosidade da atividade econômica, que está “basicamente estável”.
“Na ata [referente à reunião da semana passada e divulgada na terça-feira] a gente inclusive falou que o cenário doméstico não divergiu substancialmente do que a gente esperava”, afirmou o diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, na entrevista.
Atualmente, para conduzir a taxa básica de juros, o Banco Central mira os anos de 2024 e 2025. Em ambos os casos, a meta de inflação é de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. No acumulado de 12 meses até novembro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) alcançou 4,68%. Para 2024 e 2025, o BC calcula inflação de 3,5% e 3,2%, respectivamente.
A autoridade monetária também destacou positivamente, no relatório divulgado nesta quinta, que a média dos núcleos de inflação acumulados em 12 meses recuou de 5,22% em agosto para 4,56% em novembro. Os núcleos são medidas que excluem do cálculo itens com preços mais voláteis e que, por isso, tendem a responder mais à política monetária.
Mas Campos disse que não tem como afirmar neste momento se, depois da segunda reunião de 2024, o Copom vai ou não acelerar o ritmo de cortes da taxa básica de juros.
“Não posso dizer qual é o mapeamento daqui para a frente [além das duas reuniões], porque tem muita incerteza”, afirmou.
Independentemente da condução da Selic em 204, o BC calcula que a taxa real de juros ficará até o fim de 2026 acima da taxa neutra. A autoridade monetária projeta que a taxa real está em 6,2% anuais no último trimestre deste ano, caindo para 5,2% no fim de 2024 e 4,8% no fim de 2025 e 2026 — em todos os casos, maior do que a taxa real neutra anual, de 4,5%. A taxa neutra é aquela que não acelera nem desacelera a inflação. Já a taxa real é calculada pela autoridade monetária utilizando a “Selic acumulada quatro trimestres à frente, descontada das expectativas de inflação para o mesmo período, ambas extraídas da pesquisa Focus e medidas em termos de médias trimestrais”.
Por fim, na área fiscal, o presidente do Banco Central ainda disse que “a gente sai da semana com boas notícias”, como a promulgação da reforma tributária.
“A gente reconhece que tem um grande esforço do ministro [da Fazenda Fernando] Haddad”, afirmou. “Nesta semana teve várias vitórias importantes nesse sentido.” Mas reforçou que, assim como acontece com a conjuntura internacional e as decisões do Copom sobre a Selic, não há “relação mecânica” entre as políticas fiscal e monetária.
Por fim, o BC revisou ligeiramente para cima a sua projeção para o crescimento nominal do estoque de crédito em 2024, de 8,5% para 8,8%. Segundo a autoridade monetária, “qualitativamente a projeção é semelhante à apresentada” em setembro, com “expressiva aceleração” dos empréstimos para as pessoas jurídicas, “refletindo a flexibilização da política monetária e a dissipação dos impactos dos eventos envolvendo grandes empresas”.
Para pessoa física, “projeta-se inflexão na tendência de desaceleração do crédito livre, mas o crescimento deve permanecer inferior ao registrado em 2021 e 2022”.
Fonte: Valor Econômico

