Por Matheus Prado e Arthur Cagliari — De São Paulo
22/06/2023 05h01 Atualizado há 29 minutos
O Comitê de Política Monetária (Copom) retirou da sua comunicação a possibilidade de novas altas de juros, mas, ao contrário do que parcela majoritária do mercado esperava, manteve tom duro e o início do processo de flexibilização em aberto. Economistas ouvidos pelo Valor escolheram manter cenários inalterados à espera de mais indicações macro e do próprio BC antes da decisão de agosto.
A economista-chefe da Principal Claritas, Marcela Rocha, diz que, comparado ao comunicado anterior, há moderação no discurso na decisão de ontem. Ela nota que o BC não fala mais em retomada do ciclo de altas e que retirou o cenário alternativo com Selic constante, o que mostra que caminha para discutir flexibilização da política. Mas, em relação às expectativas, diz que o comunicado foi mais duro.
“O texto cita um ambiente externo ainda preocupante e antecipa o avanço da inflação local no segundo semestre por conta do carrego estatístico, não celebrando o processo desinflacionário atual. Projeções também não caminharam para baixo, como o mercado esperava, e o balanço de riscos não trouxe melhora em relação ao cenário fiscal”, enumera.
Para a economista, o texto tirou a chance de novas altas na Selic, mas o BC defendeu que a estratégia de manutenção da taxa por período prolongado tem se mostrado adequada para assegurar a convergência da inflação e que o momento pede cautela e parcimônia, não deixando explícitos os próximos passos nos juros.
O economista-chefe da WHG, Fernando Fenolio, diz que o Copom foi mais duro ao não telegrafar corte de juros em agosto e, caso o faça, praticamente afastou a chance de uma redução de 0,5 ponto. Além disso, diz, impôs condições para que consiga iniciar um processo de flexibilização.
“Considerei o movimento semelhante ao do Ilan [Goldfajn] em 2016, condicionando o corte a alguns fatores. Neste caso, citou a dinâmica da inflação; a desaceleração da atividade; e as expectativas de inflação. Essa última pode ter melhora após a decisão do CMN”, diz. O economista afirma que não irá revisar seu cenário, com primeiro corte em setembro, porque o texto foi “mais na direção do cenário da casa do que de um corte”.
Já o economista Leonardo Costa, da ASA Investments, diz que quem esperava um corte em agosto “vai ficar muito frustrado”. O executivo indica que o BC seguiu bastante afeito às expectativas de inflação, que estão 0,8 ponto percentual acima da meta, e “isso não é estar em torno da meta”.
Diante disso, Costa afirma que a ASA mantém a projeção de corte na Selic só em 2024. “Não alteramos porque o comunicado veio mais próximo do que acreditamos. Se observar o texto, tudo o que foi elencado não está compatível com o que a autoridade espera para dar início ao ciclo de cortes de juros. Por isso vemos uma queda na Selic só a partir do ano que vem.”
Ao justificar sua leitura, Costa diz que a projeção da inflação do BC para 2024 não recuou tanto desde a última leitura. Em maio, era de inflação em 3,6% em 2024; ontem, 3,4%. “Isso mostra que potencialmente houve elevação do juro neutro no modelo do BC, o que deve também atrapalhar no corte de juros mais adiante, outro fator duro.”
A leitura do economista-chefe do MUFG Brasil, Carlos Pedroso, foi de que o tom se manteve conservador, mas que ainda existe espaço para que os cortes comecem em agosto. “Deve ser um corte de 0,25 ponto percentual em agosto e certo gradualismo depois”, aponta. Pedroso lembra, ainda, que até a próxima reunião, dois acontecimentos podem dar condições para esse movimento: a aprovação do novo marco fiscal e uma discussão mais aprofundada da reforma tributária no Congresso.
Ainda na leitura do economista, com a decisão de ontem, alguma correção deve ser observada no preço dos ativos. “Acho que a expectativa era que tivesse algum sinal mais forte do início do corte de juros. Acredito, assim, que houve alguma frustração. Talvez tenha alguma alteração na curva de juros. Câmbio, por exemplo, pode apreciar por conta de ter mantido o carrego [do diferencial de juros].”
Rocha, da Claritas, também mantém projeção de flexibilização em agosto. Se olhasse só para o comunicado, diz, a sinalização seria de que o BC vai demorar mais a cortar. “Mas a hipótese de agosto não está descartada quando analisamos o cenário macro e a decisão do CMN. Se as metas [de inflação] se mantiverem e as expectativas continuarem a convergir, teríamos ainda janela positiva em termos de inflação. A ata vai ser importante para mostrar se existe um otimismo maior de alguns membros.”
Fonte: Valor Econômico

