Por Eduardo Magossi e Sérgio Tauhata — De São Paulo
06/04/2022 05h03 Atualizado 06/04/2022
O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) vai iniciar uma redução significativa em seu balanço patrimonial – que já atinge US$ 9 trilhões – a partir da próxima reunião de seu Comitê de Mercado Aberto, o Fomc, em maio. É um esforço concentrado, junto com a alta de juros, para combater a inflação, que já chega perto dos 8%, a maior em quatro décadas.
A sinalização foi dada ontem pela conselheira do Fed Lael Brainard, em conferência virtual da regional de Mineápolis do BC dos EUA. Brainard, que espera confirmação do Senado americano para assumir a vice-presidência do Fed, disse que a redução do balanço, aliada à elevação dos juros, vai levar a política monetária para uma posição mais neutra – que não acelera nem desacelera a economia – até o fim do ano.
Desde o início da pandemia, em março de 2020, o Fed mais que dobrou seu balanço patrimonial de US$ 4,1 trilhões para US$ 9 trilhões, por meio da compra de títulos do Tesouro e papéis atrelados a hipotecas, para dar suporte aos mercados financeiros nos dois anos após o início da pandemia. Antes da crise de 2008, o balanço somava US$ 900 bilhões.
É uma expansão sem precedentes na história do banco. Agora, as autoridades se preparam para iniciar uma reversão do apoio dado na época da crise. Detalhes de como será a redução do balanço devem ser conhecidas hoje, durante a divulgação das atas da última reunião do Fed, de 15 e 16 de março.
Brainard adiantou, contudo, que a redução do balanço deverá ter um limite maior e ser realizada mais rapidamente do que a anterior, feita entre 2017 e 2019. Naquele período, o balanço somava US$ 4,5 trilhões – metade do registrado hoje – e a redução teve início com US$ 10 bilhões mensais, terminando um ano depois, com a redução de US$ 50 bilhões por mês. “Considerando que a recuperação foi mais forte e rápida que o ciclo anterior, espero que o balanço patrimonial seja reduzido mais rapidamente que antes, com volumes maiores e em um período muito menor”, disse.
A redução rápida, segundo Brainard, irá contribuir para um “aperto monetário acima dos aumentos esperados na política monetária refletida na precificação do mercado e nas projeções do Fomc”. Mas, se necessário, o Fed está preparado para ações mais firmes se justificadas por inflação e expectativa de inflação elevada, destacou.
O Fed elevou sua taxa de curto prazo em março em 0,25 ponto percentual para uma faixa entre 0,25% e 0,5%, a primeira de uma série de altas esperadas pelo mercado e indicadas pela autoridade para este e o próximo ano. Depois da reunião de março, muitos membros do Fed e analistas de bancos passaram a estimar uma alta maior que o tradicional 0,25 ponto percentual na reunião de maio devido ao mercado de trabalho firme e à inflação elevada. Vários bancos e economistas estimam não uma, mas várias altas de 0,5 ponto percentual durante o ano para combater a inflação, porque o Fed estaria muito “atrás da curva de juros”.
É o caso do ex-presidente da regional de Nova York do Fed William Dudley, que, durante evento on-line organizado pelo Bradesco BBI ontem, afirmou que o Fed está “extraordinariamente atrás da curva”. Segundo ele, o BC americano não pode começar a remover a acomodação monetária até que três condições estejam preenchidas: que a economia tenha atingido os 2% de inflação, que a inflação rode acima desse patamar por algum tempo e que a economia tenha alcançado um nível de emprego consistente com esse objetivo de inflação. Para Dudley, “na visão do Fed, essas três condições não estavam presentes até o mês passado, e por isso demorou tanto para subir as taxas”. Conforme o economista, “os EUA estão agora em uma situação em que o aperto da política monetária precisa ser muito mais forte do que está sendo”.
Outro erro, segundo Dudley, são as perspectivas muito otimistas. “Ao longo da maior parte do ano passado, o Fed ficou falando sobre como as pressões inflacionárias seriam transitórias, causadas principalmente pela mudança na composição da demanda dos serviços em direção aos bens”, pontuou. “Acontece que as pressões inflacionárias se revelaram muito mais amplas e mais persistentes que o BC americano esperava.”
Na visão de Dudley, o Fed terá de agir muito mais rapidamente a partir de agora. “Eles sabem que estão atrás da curva e precisam levar a política monetária para, pelo menos, a taxa neutra”, disse.
No passado, quando o Fed reduziu o volume de ativos comprados após a crise de 2009, o ritmo foi de cortes mensais de US$ 30 bilhões em Treasuries e US$ 20 bilhões em títulos hipotecários. “Vão ter de dobrar o tamanho dos cortes, porque o balanço atual está muito maior.”
Fonte: Valor Econômico
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