![Kazuo Ueda: “Reconhecemos que [câmbio] é risco importante, que pode impulsionar inflação e afetar crescimento” — Foto: Akio Kon/Bloomberg](https://s2-valor.glbimg.com/7kahlP8BxyFFmc3p69BEERSUj_A=/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2024/I/L/EcMtBHRwquk7mX0wuJXA/foto01fin-401-boj-c2.jpg)
O Banco do Japão (BoJ, na sigla em inglês) surpreendeu o mercado ontem ao elevar sua taxa referencial de juros em 0,15 ponto percentual, saindo de 0,1% fixado em março para 0,25% ao ano, seguindo sua estratégia de começar a apertar sua política monetária ultrafrouxa. A medida foi vista pelo mercado como uma tentativa de reverter a forte desvalorização do iene, colocando o crescimento econômico em segundo plano.
Em um primeiro momento, a medida deu certo e o iene se valorizou quase 2%, sendo negociado abaixo do importante nível psicológico de 150 ienes por dólar. No fim da tarde, a moeda japonesa se valorizava 1,90%, a 149,816 ienes por dólar, nível visto pela última vez em meados de março. O BoJ também anunciou que reduzirá suas compras mensais de títulos do governo japonês (JGB) para 3 trilhões de ienes a partir do primeiro trimestre de 2026, ante atuais 6 trilhões de ienes. As reduções serão de 400 bilhões de ienes por trimestre.
O mercado viu com cautela a decisão do BoJ, tomada em um momento em que a economia japonesa dá sinais de contínuo enfraquecimento. No comunicado do BoJ, o comitê de política monetária projetou um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2024 de 0,6%, nível 0,2 ponto percentual inferior à projeção feita em abril e bem abaixo dos 2,9% registrados no primeiro trimestre. Para 2025 e 2026, o crescimento do PIB foi projetado em 1%.
Já o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) foi estimado em 2,5% em 2024, caindo para 2,1% em 2025 e 1,9% em 2026, em torno da meta de 2%. “Se o cenário apresentado em julho se concretizar, o banco central irá continuar a elevar suas taxas de juros e ajustar o grau de acomodação monetária”, diz o comunicado. O texto também reitera que a decisão foi tomada porque a economia está caminhando dentro das expectativas do BoJ.
Na coletiva, o presidente do banco central japonês, Kazuo Ueda, disse que os juros permanecem muito baixos, mesmo a 0,25%, e seguem negativos quando descontada a inflação. Ueda citou o risco de forte desvalorização do iene como uma das razões da decisão de elevar os juros. Recentemente a moeda japonesa caiu para seu menor nível em 38 anos ante o dólar. “Reconhecemos que é um risco importante, que pode impulsionar a inflação e impactar o crescimento.”
Ueda também disse que elevar os juros neste momento não é um obstáculo para a economia. Conhecido por sua postura suave (“dovish”, no jargão da política monetária), Ueda surpreendeu ao afirmar que mais altas de juros poderão ocorrer antes do fim do ano.
Nick Bennenbroek, economista do Wells Fargo, tem a mesma opinião. Ele acredita que o fato de o BoJ ter elevado os juros mesmo em um ambiente de atividade fraca indica um desejo aparente de normalização da política monetária. Para o economista, o BoJ continuará a subir os juros com outra alta de 0,25 ponto percentual em outubro, elevando as taxas para 0,50%, e mais um aumento da mesma magnitude em janeiro.
“O mais recente cenário econômico do BoJ apoia nossa visão de que a normalização do banco central japonês irá se acelerar nos próximos meses”, avalia Min Joo Kang, economista do banco ING. Segundo ele, os comentários de Ueda foram relativamente “hawkish” (duros) se crescimento e inflação ficarem em linha com as projeções do banco. Kang projeta que o PIB e a inflação irão aumentar um pouco mais rápido do que o BoJ espera. “A decisão de se elevar mais os juros este ano dependerá dos dados, principalmente do crescimento real dos salários”, disse.
Para analistas da Mizuho Securities, o BoJ pode subir as taxas novamente ainda este ano e, se o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) começar a cortar juros em setembro, o iene deverá se fortalecer ainda mais.
No último mês, o iene se valorizou cerca de 7% ante o dólar, o que levantou a suspeita de que o governo havia feito intervenções no mercado de câmbio. Ontem, a suspeita se confirmou: dados do Ministério das Finanças revelaram que o Japão gastou 5,535 trilhões de ienes (US$ 36,23 bilhões) em intervenções cambiais entre 27 de junho e 29 de julho, depois de gastar quase 10 trilhões de ienes no início deste ano.
Fonte: Valor Econômico

