23 Jun 2022 ANDRÉ BORGES JULIA LINDNER
Defendida pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), a abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, que investigaria os reajustes de preços dos combustíveis, não conta nem sequer com o apoio da base do governo. O Estadão apurou que o PP, legenda comandada pelo ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, orientou seus parlamentares a não assinar o requerimento que pede a instalação da CPI.
A ordem, conforme relatado por deputados à reportagem, foi dada pelo próprio Ciro Nogueira. A reportagem questionou o ministro sobre o tema. Não houve manifestação até a conclusão desta edição.
Aliados do presidente no Congresso têm papel fundamental na aprovação do requerimento para instaurar a CPI – os votos do PP seriam suficientes para confirmar o pedido para instalação da comissão.
Até ontem, o requerimento tinha 136 assinaturas – são necessárias 171 para que o texto seja encaminhado à presidência da Câmara. Como o PP tem 53 parlamentares, a adesão do grupo já seria suficiente para ultrapassar o mínimo necessário.
No entanto, até ontem, apenas o deputado Ricardo Barros (PP-PR), que é o líder do governo na Câmara, assinou o requerimento. Todos os demais não se apresentaram. Barros disse que a comissão vai sair do papel. “A CPI será instalada e dará transparência à composição dos preços dos combustíveis”, afirmou.
O PL, partido de Bolsonaro, lidera a coleta de assinaturas e é o que registra o maior apoio. A legenda tem 77 parlamentares, e 74 já assinaram o documento.
Líder do PL na Câmara, o deputado Altineu Côrtes (RJ), autor do requerimento de criação da CPI, disse que o recuo do partido aliado é “muito ruim”. “Infelizmente o PP não manteve a palavra que foi dada na reunião de líderes para apoiar o desejo do presidente Bolsonaro”, afirmou Côrtes.
Dentro da sigla, o sentimento é de traição mesmo com a garantia do presidente da Câmara, Arthur Lira, do PP por Alagoas, de que é favorável à CPI.
Na terça-feira, o presidente Bolsonaro voltou a cobrar a CPI e deu sinais de que a comissão estaria encaminhada. “Eu estou acertando uma CPI na Petrobras. ‘Ah, você que indicou o presidente’. Sim, mas quero a CPI. Por que não? Investiga o cara, pô. Se não der em nada, tudo bem. Agora, os preços da Petrobras são um abuso”, disse em conversa com apoiadores na portaria do Palácio da Alvorada.
No Congresso, ainda não está clara a real motivação sobre a resistência de Ciro Nogueira na criação da CPI. O que foi relatado por políticos ouvidos pela reportagem é que esse não seria o momento adequado para instaurar uma investigação em razão do calendário eleitoral. Além disso, sustentam esses políticos, haveria outras formas de responder à escalada nos preços dos combustíveis. •
Fonte: O Estado de S. Paulo

