Por Álvaro Campos, Guilherme Pimenta e Talita Moreira — De São Paulo e de Brasília
10/08/2022 05h02 Atualizado há 37 minutos
Os presidentes dos dois maiores bancos privados do país manifestaram preocupação com a inflação, embora os dados de julho tenham mostrado queda mensal de 0,68% do IPCA.
Principal executivo do Itaú Unibanco, Milton Maluhy Filho alertou ontem, em teleconferência de resultados, que o Brasil vive um “cenário inflacionário forte”, com impacto relevante sobre a capacidade de pagamento de alguns públicos. Enquanto isso, o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Jr., chamou a atenção para o “fantasma da inflação” em sua apresentação no Febraban Tech, evento de tecnologia do setor.
“É mais inflação e mais taxa de juros, e a taxa de juros acaba inibindo demanda em vários produtos e gerando seleção adversa em outros, que são as pessoas dispostas a pagar mais juros, mas terão mais dificuldade de honrar com os compromissos”, afirmou Maluhy.
Lazari disse esperar que a inflação seja debelada até o fim deste ano. “Vocês vão lembrar. Lá atrás, quando começou a pandemia, disse isso várias vezes: tudo o que eu peço é que a gente não tenha uma taxa de juros alta para que as pessoas possam alongar suas dívidas com uma taxa de juros baixinha e todo mundo consiga pagar. Mas infelizmente isso não aconteceu e a gente está vivendo com esse fantasma da inflação, e consequentemente política monetária apertada, que eleva a taxa de juros.”
Para o presidente do Bradesco, a economia tem mostrado um desempenho melhor que o esperado neste ano, com projeções de crescimento do PIB de 2% ou mais. No entanto, ponderou, as perspectivas para 2023 estão “muito ruins”.
Os balanços dos grandes bancos privados no segundo trimestre apontam uma piora gradual dos índices de inadimplência de pessoas físicas e pequenas empresas. A deterioração já era esperada pelas instituições financeiras e ainda deve haver alguma piora – até porque as carteiras de crédito têm crescido em linhas de maior risco.
O que preocupa o setor é que, mesmo que o ciclo de alta da Selic promovido pelo Banco Central (BC) tenha chegado ao fim, a maior parte dos efeitos da política monetária sobre a economia ainda não foi sentida. Ou seja ainda haverá uma desaceleração da atividade. Ao mesmo tempo, economistas e bancos trabalham com um cenário em que as taxas de juros não começarão a ser reduzidas antes da metade do ano que vem, o que pressiona a inadimplência.
No Bradesco, a inadimplência subiu de 3,2% em março para 3,5% em junho. Houve aumento de 1 ponto percentual em 12 meses. No Itaú, a taxa de operações com atraso superior a 90 dias avançou para 2,7% no fim do segundo trimestre, de 2,6% no fim do primeiro e 2,3% na metade do ano passado. A deterioração se concentrou no segmento de pessoas físicas. O Santander tinha inadimplência de 2,9% em junho, estável no trimestre e 0,7 ponto percentual maior que a apresentada 12 meses antes.
Fonte: Valor Econômico

