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Gigantes do setor bancário que antes eram os que tinham mais terreno a perder para o mundo em expansão do crédito privado continuam a encontrar mais maneiras – e muito mais dinheiro – para injetar na área.
Durante anos, a ameaça era que grupos que oferecem crédito diretamente a empresas desbancassem os incumbentes ao atrair seus clientes e tirar deles negócios com empréstimos corporativos. Hoje, parece que os maiores bancos dos Estados Unidos decidiram que, se não conseguem evitar essa concorrência, vão entrar nela com tudo.
Nos últimos meses, bancos como Goldman Sachs, Citigroup e Wells Fargo anunciaram planos de reunir mais de US$ 50 bilhões para investir em crédito privado, de acordo com uma análise da Bloomberg. Alguns oferecem aos clientes investidores mais maneiras de se juntar a essa iniciativa, e a asset do J.P. Morgan Chase pretende adquirir uma empresa de crédito privado.
“Não podemos ignorar isso”, disse Daniel Pinto, presidente e diretor de operações do J.P. Morgan, a investidores em maio. “Precisamos realmente adotar isso e garantir que estejamos posicionados de maneira adequada para participar desse mercado.”
Embora muitos bancos tenham apontado para esforços multibilionários, uma série de abordagens tem aparecido para ajustar esse interesse. Algumas instituições se basearam em franquias de dívida privada há muito estabelecidas em suas assets. Algumas reservaram fundos de seus balanços. E algumas fizeram parcerias e vão fornecer acesso a tomadores de empréstimos, ou a dinheiro, ou a ambos.
As incursões cada vez mais profundas no crédito privado têm o potencial de levar os bancos a concorrerem com suas próprias áreas de empréstimo tradicionais. Mas, em alguns casos, os bancos podem concluir que é mais lucrativo ganhar comissões ao tirar dinheiro de investidores como fundos de pensão e seguradoras para financiar empréstimos, em vez de aceitar colocar dinheiro próprio e correr o risco de não conseguir distribuir a dívida no mercado.
A estratégia também lhes permite oferecer aos tomadores de crédito uma segunda opção, em vez de correr o risco de perderem esses clientes para outro banco.
Certamente, as somas são uma gota d’água no oceano em comparação com o setor de US$ 1,7 trilhão em que o crédito privado se transformou nos últimos anos, à medida que gestoras de ativos como Blackstone e Apollo migraram em massa para essa classe de ativos em expansão.
Mesmo enquanto os bancos clamam para investir dinheiro no crédito privado, um grupo de chefes dessas instituições começou a soar alertas sobre perigos subjacentes em potencial.
Em um evento em abril, a executiva-chefe do Citi, Jane Fraser, advertiu que existe um risco para o número cada vez maior de seguradoras acumulando recursos em oportunidades de crédito direto.
“Estamos todos cientes dos riscos”, disse Bill Winters, CEO do Standard Chartered, em uma sala cheia de reguladores no mesmo evento. “Como sempre, as coisas boas vão longe demais e depois se corrigem. E o nosso papel como bancos, e o de vocês como supervisores, é garantir que não sejamos levados embora quando a maré baixar.”
Jamie Dimon, do J.P. Morgan, disse que sua expectativa é que surjam problemas no crédito privado e avisou que “pode haver consequências graves”, principalmente à medida que os clientes de varejo ganhem acesso à classe de ativos em expansão.
“Você quer dar acesso a clientes de varejo em alguns desses produtos menos líquidos? Bem, a resposta é: provavelmente, mas não aja como se não houvesse nenhum risco nisso”, afirmou Dimon na semana passada. “Os clientes de varejo tendem a dar a volta no quarteirão e ligar para seus senadores e deputados.”
Há indicações cada vez maiores de que os bancos estão em busca de reconquistar parte dos negócios que podem ter perdido para grupos de concessão de crédito direto. Alguns bancos de investimento, como o Goldman Sachs, estão oferecendo refinanciamentos amplamente sindicalizados de alguns dos tipos mais arriscados de crédito privado.
Os recursos que os gigantes de Wall Street têm levantado podem se defrontar com uma falta de lugares para serem aplicados. As taxas de juros elevadas minaram a demanda por empréstimos nos Estados Unidos. Os saldos de empréstimos nos seis maiores bancos do país devem aumentar em menos de 1% no segundo trimestre, de acordo com estimativas de analistas compiladas pela Bloomberg.
O volume de dinheiro destinado a fundos de crédito privado que está disponível mas ainda não foi aplicado chegou a um recorde. Investidores já estão preocupados com a possibilidade de que isso leve alguns gestores de fundos a oferecer preços mais baixos ou a ajustar os acordos de empréstimo para sejam mais favoráveis aos tomadores.
“A demanda por transações é muito forte”, disse David Mechlin, gerente de carteira do UBS Asset Management em maio. “Mas a necessidade de crédito não está lá.”
Fonte: Valor Econômico
