Por Dylan Loh — Nikkei, de Cingapura
03/10/2023 05h03 Atualizado há 4 horas
O Banco Mundial cortou sua previsão para o crescimento da China no ano que vem, como resultado da prolongada crise imobiliária. Sendo a maior economia da Ásia, os problemas da China vão pesar sobre os países da região.
O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da China é agora estimado em 4,4% para 2024, em relação aos 4,8% projetados pela instituição em abril.
Para as economias em desenvolvimento do Leste da Ásia e do Pacífico, grupo que, além da China, inclui países como Camboja, Indonésia, Malásia, Filipinas, Tailândia e Vietnã, o crescimento de 2024 deve cair a 4,5%, em relação aos 4,8% estimados em abril.
Em relatório divulgado ontem, o Banco Mundial alerta que um “choque ao crescimento” vindo dos maiores parceiros comerciais da região – a China e os EUA – impactará as economias asiáticas por meio do comércio e dos fluxos financeiros bilaterais.
“A China se tornou um mercado realmente importante para a região”, disse o economista-chefe do Banco Mundial para o Leste da Ásia e o Pacífico, Aaditya Mattoo. “O que acontece na China é muito importante à atividade econômico no restante da região… conexões como comércio e serviços, turistas chineses e assim por diante.”
Uma expansão de 4,4% em 2024, se se confirmar, implicará que o crescimento da China não voltará a ser tão sólido como era antes da pandemia. Dados estatísticos oficiais mostram que a economia chinesa crescia cerca de 6% a 7% anualmente no fim da década de 2010, antes de desacelerar para 2,2% em 2020 devido à pandemia. Sua expansão se recuperou para 8,4% em 2021 mas voltou a desacelerar, para 3%, em 2022, quando a política de covid-zero comprometeu as atividades comerciais. Para este ano, o Banco Mundial projeta uma expansão de 5,1% para o país.
O relatório do Banco Mundial observa que uma redução de 1% na expansão da China é associada a um corte no crescimento regional de 0,3 ponto percentual.
“O crescimento passado da China, puxado, em grande medida, pelos investimentos em infraestrutura e imóveis, deixou empresas e governos regionais e provinciais às voltas com o endividamento – num momento em que rendimentos em infraestrutura saturados estão diminuindo os retornos e a superoferta de imóveis residenciais reduz os preços desses bens”, observa o relatório.
A economia chinesa, a segunda maior do mundo, tem sido pressionada por problemas vindos de incorporadoras imobiliárias em dificuldades financeiras.
No passado a maior incorporadora do país, o China Evergrande Group enfrenta dificuldades sob o peso de imensas dívidas acumuladas durante anos, enquanto a queda das vendas reduziu sua posição de caixa após medidas restritivas adotadas pelo governo ao setor.
Mattoo observou que estimativas da contribuição do setor imobiliário para o PIB da China vão de 25% a 33%, incluindo setores em torno da atividade imobiliária.
“A participação do setor na economia ficou muito grande”, disse ele. “Vemos dificuldades generalizadas por causa dos preços das moradias, que nas cidades maiores parecem estar se recuperando, mas nas cidades secundárias ainda enfrentam dificuldades.”
O Banco Mundial indicou que o crescimento na Ásia do Leste e Pacífico permanecerá sólido, no geral, em 5% em 2023, mas que esse impulso perderá força no segundo semestre deste ano. Apesar dos problemas da China, a instituição vê casos raros de sucesso no Sudeste Asiático, em vista da previsão de redução da inflação global.
Observou, para a região, que a combinação da reforma dos serviços e da digitalização está criando novas oportunidades, com a “difusão de tecnologias digitais” devendo melhorar o desempenho da economia.
O Banco Mundial destacou que, nas Filipinas, a adoção de software e análise de dados pelas empresas elevou a produtividade das companhias em 1,5%, em média, ao longo de boa parte da década anterior, enquanto no Vietnã a redução das barreiras de política econômica levou a aumentos da produtividade da mão de obra.
Mesmo assim, observou Mattoo, permanecem riscos. “Em todos os países, em todas as famílias, empresas, o endividamento está muito mais elevado do que era”, disse. “Isso continuará ser um ônus; sobre as famílias [vão gastar menos], sobre as empresas [vão investir menos], sobre os governos, isso também limitará o espaço fiscal que eles têm para sustentar o nível de atividade na economia.”
Fonte: Valor Econômico

