O Banco Mundial rebaixou a sua previsão de crescimento do produto interno bruto (PIB) da China em 2024 para 4,4%, ante os 4,8% previstos pela instituição em abril.
A maior economia da Ásia se debate com uma crise imobiliária em formação que já dá sinais de desaceleração da atividade em geral.
Para as economias em desenvolvimento da Ásia Oriental e do Pacífico, que, assim como a China, incluem países como Camboja, Indonésia, Malásia, Filipinas, Tailândia e Vietnã, espera-se agora um crescimento de 4,5% em 2024, abaixo dos 4,8% de abril.
Estes números foram divulgados num relatório do Banco Mundial divulgado na segunda-feira, alertando que um “choque de crescimento” proveniente dos maiores parceiros comerciais da região – a China e os Estados Unidos – teria impacto nas economias asiáticas através do comércio bilateral e dos fluxos financeiros.
“A China é mercado realmente importante para a atividade econômica da região, por suas ligações de comércio, serviços e turismo, entre outros”, disse o economista-chefe do banco para a Ásia Oriental e Pacífico, Aaditya Mattoo, ao “Nikkei Asia”.
Uma expansão de 4,4% em 2024 significaria que o crescimento da China não seria tão forte como era antes da pandemia. As estatísticas oficiais mostram que a economia chinesa cresceu cerca de 6% a 7% anualmente no final da década de 2010, antes de abrandar para 2,2% em 2020 devido aos problemas advindos da covid-19.
O crescimento recuperou-se para 8,4% em 2021, mas desacelerou novamente para 3% em 2022, à medida que a política estrita de tolerância zero com a covid bancada pelo governo central da China prejudicou as atividades empresariais.
Para este ano, o Banco Mundial projeta uma expansão de 5,1% para o país.
O relatório do Banco Mundial observou que uma redução de 1% no crescimento da China está associada a um corte na expansão regional em 0,3 ponto percentual.
“O crescimento passado da China, em grande parte impulsionado pelo investimento em infraestruturas e propriedades, deixou as empresas e os governos locais sobrecarregados de dívidas – à medida que as infraestruturas saturadas produzem rendimentos decrescentes e um excesso de oferta de habitação reduz os preços dos imóveis”, observou o relatório.
A China tem sido pressionada ultimamente por problemas financeiros graves de seus maiores incorporadores imobiliários.
Outrora o maior incorporador do país, por exemplo, o China Evergrande Group está se debatendo com mais de US$ 300 bilhões em dívidas acumuladas ao longo de vários anos, enquanto uma queda nas vendas atingiu a sua posição de caixa logo após o governo ter tomado medidas para conter a expansão imobiliária à qual Pequim chamou de “especulação”.
Mattoo observou que as estimativas sobre a contribuição do setor imobiliário para o PIB da China variam entre um quarto e um terço, incluindo as indústrias vizinhas que sustentam os negócios imobiliários.
“A participação do setor na economia tornou-se muito grande”, disse ele. “Vemos dificuldades generalizadas porque, infelizmente, os preços das casas – nestas maiores cidades parecem estar se recuperando, mas as cidades de segundo nível ainda estão em dificuldades”.
O Banco Mundial previu que o crescimento nos países em desenvolvimento da Ásia Oriental e do Pacífico permanecerá forte em 5% em 2023, no geral, mas que a dinâmica diminuirá no segundo semestre deste ano. Apesar dos problemas da China, a instituição vê pontos positivos no Sudeste Asiático, com a expectativa de que a inflação global diminua.
Na região, observou que a combinação da reforma dos serviços e da digitalização está criando novas oportunidades, com a “difusão de tecnologias digitais” destinadas a melhorar o desempenho econômico.
O Banco Mundial destacou que, nas Filipinas, a adoção de software e análise de dados pelas empresas aumentou a produtividade em 1,5%, em média, durante grande parte da década anterior, enquanto no Vietnã a redução das barreiras políticas, como as restrições à entrada estrangeira e a propriedade em setores como os transportes, finanças e serviços empresariais levaram a aumentos na produtividade do trabalho.
Ainda assim, Mattoo observou que os riscos permanecem. “Em todos os países, nas famílias e nas empresas, a dívida é muito maior do que era”, disse ele. “Isso ainda será um fardo. Para as famílias, que gastarão menos, e para as empresas, que investirão menos. Para os governos, também haverá o problema da limitação do espaço fiscal de que dispõem para apoiar a atividade na economia.”
Fonte: Valor Econômico

