2 Sep 2022 DANIELA AMORIM VINICIUS NEDER • COLABORARAM ISABELA BOLZANI E CÍCERO COTRIM
O processo de retomada após a pandemia levou o consumo das famílias a atingir, no segundo trimestre, novo nível recorde, ao crescer 2,6% ante os três primeiros meses do ano. A variação foi impulsionada por uma demanda reprimida por causa da pandemia de covid19, mas teve o apoio também de uma melhora no mercado de trabalho e de medidas do governo para incrementar a renda das famílias.
Apesar de positivo, o avanço devolveu o consumo das famílias para nível pouco superior ao do quarto trimestre de 2014, revelando uma economia estagnada ao longo de oito anos – o Produto Interno Bruto (PIB) agregado ainda está 0,3% abaixo do nível máximo, do primeiro trimestre de 2014.
Segundo Silvia Matos, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) e coordenadora do Boletim Macro Ibre, economistas já esperavam que o fim da pandemia pudesse provocar um “miniboom” no consumo de serviços, pois as famílias, especialmente as de maior renda, seriam liberadas para gastar parte relevante de seus rendimentos em serviços, como sempre costumavam fazer.
O movimento era esperado para o fim de 2021, mas ficou para o primeiro semestre deste ano. “Nesse (segundo) trimestre parece ter sido isso. As pessoas foram para festas, casamentos. Acumulou tudo”, disse Silvia.
CONTATO SOCIAL. A melhora do mercado de trabalho está ligada à normalização, pois houve uma recomposição das vagas perdidas nas atividades que dependem do contato social, que são destaque entre os maiores empregadores do País. Com a geração de empregos, a renda familiar cresce, mesmo que os salários de cada membro da família sejam menores do que antes, lembrou Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria.
Um terceiro fator a impulsionar o consumo foi a liberação de recursos extras pelo governo, como a elevação do Auxílio Brasil, programa que substituiu o Bolsa Família, para R$ 400 ao mês – o aumento mais recente, para R$ 600, não teve efeito no segundo trimestre –, a antecipação do pagamento do 13.º salário de aposentados e pensionistas e a liberação de saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Somente os saques do FGTS adicionarão 0,2 ponto porcentual ao crescimento do PIB de 2022, calculou Alessandra Ribeiro.
Esses três fatores – a normalização das atividades, a geração de empregos e as medidas do governo – tiveram ainda a contribuição do crédito. Segundo o IBGE, as operações para as pessoas físicas cresceram, na comparação com o segundo trimestre de 2021, apesar das taxas mais altas. Tudo isso fez o consumo das famílias contornar os dois principais obstáculos ao seu crescimento: a inflação elevada e a alta dos juros.
Fonte: O Estado de S. Paulo

