Por Arthur Cagliari, Valor — São Paulo
07/02/2023 16h36 Atualizado há 18 horas
Os recentes ataques do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Banco Central é parte da estratégia do petista para culpar o governo anterior pela lenta recuperação econômica. Essa foi a avaliação dos economistas para Brasil do TS Lombard, Elizabeth Johnson e Wilson Ferrarezi em relatório a clientes.
“Isso não é novidade para Lula, que em seus dois primeiros mandatos repetidamente culpou a ‘herança maldita’ do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso por todas as falhas de seu governo”, apontaram na nota. “Ao culpar o presidente do BC, [Roberto] Campos Neto – e, por extensão, o ex-presidente [Jair] Bolsonaro– pela economia fraca, Lula quer justificar preventivamente a lenta recuperação esperada para este ano. Infelizmente, suas declarações são contraproducentes e têm o potencial de contribuir para uma desancoragem das expectativas de inflação, que é uma métrica-chave monitorada pelo BC”.
Segundo os economistas do TS Lombard, a principal preocupação de Lula é manter sua base engajada e melhorar seus índices de aprovação. “Suas declarações recentes precisam ser vistas no contexto de seu índice de popularidade, que permanece baixo para um presidente em exercício. É por isso que ele está trabalhando duro para alcançar sua base de apoio principal e tentar aumentar seu apoio entre os brasileiros de classe média e pequenos empresários, que estão sofrendo com as altas taxas de juros.”
Enquanto faz isso, os economistas lembram que o presidente já indicou em entrevista na semana passada que não pretende pressionar o Congresso para derrubar a independência do banco.
Ainda na avaliação dos economistas, apesar do barulho recente, o cenário base do banco continua sendo de o BC manter as taxas mais altas por mais tempo, em vez de aumentá-las. Já os mercados permanecerão voláteis até que os investidores vejam progressos concretos no âmbito fiscal, ainda segundo os economistas.
“Embora a reforma tributária continue sendo fundamental para monitorar, no final deste mês devemos obter algumas pistas sobre o verdadeiro compromisso do governo com a responsabilidade fiscal quando decidir se deve estender a isenção de impostos sobre a gasolina”, afirmaram. “Da mesma forma, Lula nomeará o próximo diretor de política monetária do BC ainda neste mês. Quem for escolhido para ocupar esse posto dará algumas pistas sobre os rumos da política monetária”.
Fonte: Valor Econômico

