Por André Mizutani e Daniel Gateno — De São Paulo
18/08/2022 05h03 Atualizado há 4 horas
A ata da reunião de julho do Federal Reserve (Fed, o BC americano) trouxe poucas novidades, mas a reação inicial ao documento indica que os mercados financeiros interpretaram o tom das discussões como sendo mais “dovish” (favorável ao afrouxamento monetário) do que se esperava.
Grande parte do motivo para esta avaliação parece girar em torno de uma frase específica da ata: “Os integrantes [do Fed] avaliaram que, conforme a política monetária fica mais apertada, provavelmente se tornará apropriado em algum momento reduzir o ritmo de alta de juros, enquanto eles avaliam os efeitos dos ajustes cumulativos da política monetária sobre a atividade econômica e a inflação”.
De fato, após a divulgação da ata os contratos futuros dos Fed funds – usados pelos investidores para avaliar as apostas na política monetária dos EUA – indicavam na noite de ontem uma probabilidade implícita de 64,5% de uma alta de juros de apenas 0,5 ponto percentual na próxima reunião do BC, em setembro. Na terça-feira, as apostas em um movimento desta magnitude eram de 59%.
Mas tal avaliação não é unânime, dado que a ata também trouxe sinalizações que podem ser vistas como indicando uma postura mais “hawkish” (favorável a maior aperto monetário). “A minha visão geral é a de que ainda está razoavelmente em aberto até onde os juros terão que subir”, diz Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original, que vê ainda um viés mais hawkish nos comentários da ata.
Embora Caruso reconheça a abertura a uma desaceleração dos juros em um futuro próximo no texto da ata, ele ressalva que a maioria dos integrantes do Fed parece estar se mostrando mais preocupados com a inflação elevada do que com a desaceleração da economia, o que sugere um viés a favor de juros mais altos. “Se haverá ou não redução no ritmo de alta dos juros na próxima reunião é uma bola dividida, mas o que me chama a atenção é que não há nada nos comentários que autorize os cortes de juros que o mercado já chegou a precificar para o ano que vem”, afirma.
No mercado de renda fixa, o comportamento dos rendimentos dos títulos do Tesouro americano parece concordar com uma avaliação mais hawkish, tendo subido na sessão de ontem. O rendimento da T-note de dez anos subiu a 2,90%, de 2,812% do fechamento anterior, enquanto o do papel de dois anos avançou a 3,279%, de 3,241%.
“O mercado de títulos não está convencido desta ideia de que uma mudança de rumo do Fed é iminente”, disse Chris Verrone, sócio da Strategas, à “Dow Jones Newswires”. “Os dados não apoiam [esta ideia] e o mercado de títulos também não apoia.”
Em Wall Street, as ações moderaram as perdas vistas no começo do dia, mas ainda assim fecharam em queda, com os comentários do BC americano não se mostrando suficientes para levar os índices ao terreno positivo. O Dow Jones fechou em queda de 0,50%, a 33.980,32 pontos, enquanto o S&P 500 recuou 0,72%, a 4.274,04 pontos, e o Nasdaq caiu 1,25%, a 12.938,12 pontos.
A ação da varejista americana Target fechou em queda de 2,69% após a empresa registrar uma redução de 90% nos ganhos trimestrais. Já a Lowe’s, companhia americana do setor de materiais de construção, subiu 0,58%, depois que a companhia anunciou que prevê um lucro maior do que o esperado para 2022.
Além disso, as vendas no varejo dos Estados Unidos ficaram estáveis em julho, na comparação com o mês anterior, mas subiram 10,3% em relação a julho de 2021. O desempenho das vendas veio abaixo da expectativa dos economistas consultados pelo “The Wall Street Journal”, de alta de 0,1%.
Os temores em relação à política monetária também pressionaram as ações na Europa, mas lá o foco foi no dado de inflação ao consumidor do Reino Unido, que subiu a 10,1% em julho, na sua maior leitura anualizada desde fevereiro de 1982. As bolsas europeias fecharam antes da divulgação da ata.
O índice pan-europeu Stoxx 600 fechou em queda de 0,91%. O FTSE 100, índice de referência da bolsa de Londres, caiu 0,27%, enquanto o DAX, de Frankfurt, recuou 2,04%. O CAC 40, da bolsa de Paris, teve perdas de 0,97%. (Colaborou Eduardo Magossi)
Fonte: Valor Econômico

