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A ata da reunião dos dias 30 de abril e 1º de maio do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), divulgada ontem, enfatizou a preocupação dos dirigentes com a aceleração da inflação dos Estados Unidos ao longo do primeiro trimestre. Sem os dados de abril, que mostraram arrefecimento da atividade e dos preços, os membros do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) questionaram o grau efetivo do aperto monetário no momento e cogitaram voltar a subir os juros, caso os riscos inflacionários discutidos no encontro se materializassem.
“Os participantes discutiram a manutenção da atual postura restritiva da política monetária por mais tempo, caso a inflação não mostre sinais de se mover de forma sustentável em direção a 2%, ou a redução da restrição no caso de um enfraquecimento inesperado das condições do mercado de trabalho”, diz a ata. “Vários participantes mencionaram a disposição de tornar a política mais restritiva caso os riscos para a inflação se materializem de forma que tal ação se torne apropriada”, conclui o documento.
Ainda que os dados de abril tenham trazido algum alívio desde o último encontro do Fomc, comentários recentes de integrantes do banco central reforçam a atual postura conservadora da ata. Assim, os mercados em Nova York se deterioraram depois da divulgação do documento.
Nas bolsas de Nova York, o índice Dow Jones encerrou o pregão em queda de 0,51%, a 39.671,04 pontos; o S&P 500 recuou 0,27%, a 5.307,01 pontos; e o Nasdaq cedeu 0,18%, a 16.801,54 pontos.
O tom duro da ata também repercutiu no mercado de renda fixa. Entre os Treasuries, a taxa da T-note de dois anos subiu de 4,837%, no ajuste da véspera, a 4,880%, enquanto a da T-note de cinco anos avançou de 4,433% a 4,469%. Na ponta longa, o ritmo foi mais contido, e o rendimento da T-note de dez anos teve leve alta de 4,421%, a 4,428%.
O forte movimento dos títulos de curto prazo indica que o mercado passou a precificar um cenário de juros mais altos do Fed nos próximos anos, ainda que as perspectivas de curto prazo não tenham mudado tanto. “O consenso ainda é de juros altos por mais tempo até quebrar a espinha dorsal da inflação. Esse é o ‘plano A’ segundo o que está escrito e falado”, destaca Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital.
Para Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, a sinalização de que os dirigentes devem manter os juros altos por um longo período, com parte do Fomc disposto até a aumentá-los, serve para reforçar o caráter dependente de dados do colegiado. “Em outras palavras, esticaram o argumento da política baseada em dados, deixando aberto ajustes para os dois lados novamente”, diz.
Já Paul Ashworth, economista-chefe para América do Norte da Capital Economics, pondera que os dados de abril devem ter suavizado a preocupação dos banqueiros centrais com as surpresas do primeiro trimestre. Ainda assim, diz, “serão necessários pelo menos mais alguns meses de dados melhores para que as autoridades tenham confiança para cortar os juros, o que não acreditamos que aconteça antes de setembro”.
Depois da ata, o mercado passou a precificar uma chance praticamente igual de que o Fed corte os juros apenas uma vez neste ano, ao invés do cenário de dois cortes de 0,25 ponto percentual que segue como consenso, ainda que por pouca diferença.
Pinheiro, da Galapagos, projeta dois cortes do banco central americano, um no fim do terceiro trimestre e outro no quarto trimestre, mas pondera que isso dependerá da evolução dos indicadores econômicos no decorrer do ano. “Se no meio do caminho tiver algum dado de inflação surpreendendo para cima, pode ser reduzido para um [corte]. Mas parece claro que os cortes devem começar esse ano”, diz.
Outra discussão enfatizada pela ata foi a incerteza dos dirigentes do Fed quanto ao grau de restritividade da política monetária no momento. Entre as razões para isso, foi citada a “possibilidade de que os juros altos possam estar tendo efeitos menores do que no passado; que a taxa de equilíbrio de longo prazo (também conhecida como taxa neutra) possa ser mais alta do que se pensava anteriormente; ou que o nível de produtividade potencial possa ser menor do que o estimado”.
A economista-chefe da Galapagos considera que a política fiscal expansionista dos Estados Unidos explica ao menos parte da menor eficiência dos juros americanos atualmente, já que ela sugere um juro de equilíbrio mais alto. Ainda que a economia americana tenha maior espaço de endividamento público, a relação da dívida fiscal com a política monetária é similar à de outros países, diz.
“A política fiscal expansionista deve continuar nos próximos anos, e a taxa de juros vai ser maior do que vimos nas últimas décadas”, prevê Pinheiro.
Fonte: Valor Econômico

