A AstraZeneca propôs cortes de preços para seus medicamentos nos Estados Unidos, informou seu diretor-presidente nesta terça-feira (29), dias após anunciar um investimento de US$ 50 bilhões para expandir sua presença no país. O anúncio acontece em meio à pressão do presidente Donald Trump para que as farmacêuticas reduzam os preços.
Falando a jornalistas após a divulgação dos resultados do segundo trimestre, que superaram as expectativas de receita e lucro, o CEO Pascal Soriot disse que a administração Trump está analisando as propostas da empresa. Ele não especificou quais medicamentos estão incluídos.
Trump ameaçou repetidamente impor tarifas ao mesmo tempo em que pressiona as fabricantes de medicamentos a reduzir os preços para os níveis praticados em outros países. No entanto, sinalizou, no início de julho, que as empresas teriam de um ano a 18 meses para “se organizarem” antes que tarifas específicas para o setor entrem em vigor.
“Definitivamente apoiamos a ideia de reequilíbrio, com alguma redução nos níveis de preços nos Estados Unidos e algum aumento — não estamos falando de aumentos massivos — na Europa”, disse Soriot. Ele acrescentou esperar que todos os medicamentos destinados a pacientes nos EUA sejam produzidos localmente nos próximos meses, e que a empresa também estuda vender alguns medicamentos diretamente aos clientes.
As ações da AstraZeneca chegaram a subir 3% após os resultados. No meio da tarde desta terça, os papéis eram negociados a US$ 79,93, com alta de 2,92%. “A grande incerteza, sem surpresa, continua sendo as tarifas dos EUA e o modelo de Preço da Nação Mais Favorecida no setor farmacêutico. A AstraZeneca está tentando se antecipar a essa incerteza”, disse Sheena Berry, analista de saúde da Quilter Cheviot.
Os EUA representaram mais de 40% da receita da AstraZeneca em 2024. A maior empresa listada do Reino Unido em valor de mercado já priorizava o mercado americano — o maior do mundo, avaliado em US$ 635 bilhões — mesmo antes do retorno de Trump ao poder.
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Os esforços da AstraZeneca estão dando frutos, com forte demanda nos EUA e vendas robustas de novos medicamentos para câncer, doenças cardíacas e renais, que elevaram a receita total do segundo trimestre em 11%, para US$ 14,46 bilhões (ajustada pela taxa de câmbio).
A empresa registrou crescimento de dois dígitos nos EUA, apesar dos ventos contrários causados pelas mudanças nas negociações de preços do Medicare. As vendas de medicamentos oncológicos como Tagrisso, Lynparza, Calquence, Truqap e Imfinzi superaram as expectativas.
O lucro básico por ação foi de US$ 2,17, levemente acima da expectativa dos analistas de US$ 2,16, com receita prevista em US$ 14,15 bilhões, segundo consenso divulgado pela empresa.
A AstraZeneca aposta numa série de 20 novos lançamentos de medicamentos e na expansão nos Estados Unidos para atingir US$ 80 bilhões em receita anual até 2030 e compensar a concorrência de genéricos.
Nesta terça-feira (29), a empresa manteve sua projeção para 2025 e aumentou em 3% o dividendo intermediário. Em abril, a farmacêutica havia previsto impacto limitado com possíveis tarifas nos EUA, acrescentando que conseguiria cumprir suas metas anuais se as tarifas sobre importações europeias fossem semelhantes às de outros setores. Um acordo comercial entre União Europeia e Estados Unidos firmado no fim de semana prevê uma tarifa de 15% sobre a maioria dos produtos — incluindo medicamentos — da região.
Fonte: Valor Econômico