Por Liz Capo McCormick e Michael Mackenzie, Bloomberg
26/08/2023 20h11 Atualizado há um dia
O presidente do Federal Reserve (BC dos EUA), Jerome Powell, deixou o mercado de renda fixa exatamente onde queria: sem convicção quanto aos próximos passos do ajuste nos juros.
É um cenário – evidente em parte devido ao posicionamento dividido dos juros futuros – que dá ao presidente da Fed e aos seus colegas margem de manobra para ajustar rapidamente a política nos próximos meses, conforme surjam novos dados econômicos, sem ter de se preocupar com a possibilidade de perturbar o maior mercado de renda fixa do mundo.
Powell disse em discurso na sexta-feira em Wyoming que o banco central americano está pronto para apertar a política monetária novamente, se necessário, para controlar a inflação. Para os investidores, isso significa que relatórios como os dados mensais de emprego divulgados na próxima semana serão cruciais e que será difícil coroar um vencedor na batalha entre os comprados e vendidos em breve, mesmo com os títulos do Tesouro rumo a quatro meses consecutivos de perdas.
Powell “manteve a máxima opcionalidade política”, disse Mohamed El-Erian, conselheiro econômico-chefe da Allianz SE e colunista da Bloomberg Opinion, à Bloomberg Television.
O rendimento dos treasuries de 10 anos terminou a semana um pouco acima de 4,2%, depois de atingir 4,36% durante a semana, a maior taxa desde 2007. Os títulos do Tesouro dos EUA tiveram perdas de 1,3% neste mês até quinta-feira, ficando ligeiramente no vermelho em 2023, de acordo com um índice da Bloomberg.
Campos opostos
Ainda há muito debate sobre como abordar o mercado de renda fixa quase 18 meses depois de o Fed ter iniciado a sua campanha de aperto monetário.
Alguns dos maiores gestores de recursos do mundo, incluindo o J.P. Morgan Asset Management e o TCW Group, veem uma oportunidade para aumentar apostas otimistas, com os rendimentos dos índices de referência em níveis ainda mais elevados. Essa é uma visão que espera que o aperto cumulativo do Fed e o salto de cerca de meio ponto desde junho nos rendimentos dos treasuries de 10 anos provoquem uma recessão e tornem os cortes nas taxas inevitáveis em 2024.
Entretanto, com a inflação ainda persistente e o governo dos EUA ampliando as emissões de títulos do Tesouro, os fundos de investimento estão fazendo apenas apostas de curto prazo. Bill Dudley, antigo chefe do Fed de Nova York e agora colaborador da Bloomberg Opinion, diz suspeitar que “o mercado comprado de renda fixa, que começou no início da década de 1980, acabou”.
Esse é um cenário que destaca mais uma vez para os investidores que os dados econômicos serão fundamentais para adivinhar o rumo e a ação do Fed no mercado de renda fixa. Os traders de swaps apostam numa probabilidade de cerca de dois terços que o banco central dos EUA aumente sua taxa em 0,25 ponto percentual em novembro, após uma provável pausa no próximo mês.
A primeira divulgação importante traz dados sobre a criação de empregos em agosto. A previsão mediana é que tenha ocorrido uma retração no mercado de trabalho, que o Fed ainda considera muito forte. Antes da reunião, nos dias 19 e 20 de setembro, as autoridades também terão uma nova leitura sobre a inflação ao consumidor.
“O mercado está em uma janela em que os dados são secundários, ainda esperando por setembro e isso começa com o relatório de empregos na sexta-feira”, disse Jack McIntyre, gestor de portfólio da Brandywine Global Investment Management. Neste ponto, a trajetória da inflação e dos salários “tem uma influência maior do que a oferta na direção dos rendimentos de longo prazo”.
Tiffany Wilding, economista da Pacific Investment Management Co. (Pimco), alertou os clientes esta semana que “não é impensável” que o Fed possa fazer uma pausa na alta de juros por um tempo e depois voltar a subir as taxas em 2024 se o consumo e a economia permanecerem resilientes demais.
Outra parte importante desse debate é que muitos investidores estão avaliando se as forças estruturais da economia mudaram de tal forma que a chamada taxa de juros neutra, que nem estimula nem esfria a atividade, teria aumentado. A discussão é outro catalisador por trás da recente alta nos rendimentos de longo prazo.
“Se os longos e variáveis gaps de aumento de taxas já realizados atingirem a economia no final deste ano – quando a Bloomberg Economics prevê uma recessão – o argumento de que a taxa neutra esta muito baixa poderá ganhar força”, disse Anna Wong, economista-chefe da Bloomberg nos EUA
“Vemos a atual postura da política monetária como restritiva, colocando pressão descendente sobre a atividade econômica, as contratações e a inflação”, disse Powell no seu discurso de sexta-feira. “Mas não podemos identificar com certeza a taxa de juro neutra e, portanto, há sempre incerteza sobre o nível preciso de restrição da política monetária.”
–Com assistência de Edward Bolingbroke e Ye Xie.
Fonte: Valor Econômico

