Por Gabriel Caldeira, Letícia Simionato e Igor Sodré — De São Paulo
14/06/2023 05h02 Atualizado há 2 horas
O índice de preços ao consumidor (CPI) de maio dos Estados Unidos foi a pá de cal que consolidou a aposta de que o Federal Reserve (Fed) irá manter os juros inalterados em sua reunião de hoje. É consenso entre os economistas ouvidos pelo Valor que, ao desacelerar para 0,1% em maio, o CPI consolidou um ritmo persistente de quedas, criando um momento para o banco central americano parar e analisar o resultado do aperto monetário.
Daniel Haddad, CIO da Avenue Securities, lembra que o aumento de juros pelo Fed no atual ciclo foi o mais rápido desde o fim da década de 1970 e, com o efeito defasado do aperto monetário sobre a economia, é adequado que o BC americano evite novas altas por ora para avaliar os próximos indicadores. “Ainda falta muito para chegar na meta [de inflação] de 2%, mas isso não indica que os juros precisem subir muito mais devido ao efeito defasado”, diz Haddad. Ao mesmo tempo que o CPI segue em queda, o mercado de trabalho permanece muito apertado, o que provavelmente não permitirá que o Fed corte juros este ano, avalia.
Andressa Durão, economista da ASA Investments, avalia que essa pausa em junho vai deixar a porta aberta para um novo aumento em julho. “Isso porque os últimos dados de trabalho e atividade foram mais fortes. O comunicado vai ser bem parecido com o de maio, indicando que vai ficar dependente de dados e o gráfico de pontos vai indicar alta nos juros”, afirmou.
André Diniz, economista da Kinea, apesar de concordar com a tese de pausa, espera uma postura mais agressiva do comunicado do Fed, deixando espaço aberto para mais altas no futuro porque o cenário segue bastante incerto. Para ele, esse viés de mais altas à frente deve ser observado por meio do gráfico de pontos do Sumário de Perspectivas Econômicas (SEP) a ser apresentado.
A mediana das projeções de juros do Fed deve subir de um topo de 5,25% para 5,5%, o que caracteriza mais um aumento de 0,25 ponto percentual, prevê Diniz, que também espera por projeções maiores de inflação e menores para a taxa de desemprego. Porém, mesmo que o gráfico de pontos aponte para mais uma alta pelo Fed até o fim do ano, o economista da Kinea não vê isso como provável. “O fato de a inflação ter trajetória de moderação à frente deveria ser suficiente para que o Fed não entregue mais altas”, opina Diniz, que também não vê cortes de juros em 2023.
Para Sávio Barbosa, economista-chefe da Kínitro Capital, embora não eleve os juros, o Fed deve usar a linguagem do comunicado, o SEP e a coletiva de seu presidente, Jerome Powell, para deixar aberta a possibilidade de uma nova alta de juros. “O principal instrumento para indicar esses aumentos futuros será o SEP. Todas essas revisões nas expectativas trabalham para uma taxa terminal de juros mais alta no SEP”, diz ele.
Sobre o comunicado, Lucas Carvalho, analista-chefe da Toro Investimentos, diz acreditar que o Fed deve ser bastante “conservador” e Powell deve reforçar o acompanhamento diário de dados econômicos para deixar uma porta aberta para possíveis altas. “Vão esperar a defasagem da política monetária chegar na economia real para depois saber os próximos passos de atuação.”
Bernard Tamler, gestor da Gap Asset, pondera que, na semana passada, os bancos centrais da Austrália e do Canadá surpreenderam ao elevar as taxas de juros. “O banco central americano é menos influenciável pelos outros, mas é algo que passa na cabeça do mercado e deixa a pulga atrás da orelha”, disse o gestor.
Fonte: Valor Econômico