Por Bloomberg
29/04/2022 05h03 Atualizado há 4 horas
A invasão da Ucrânia pela Rússia desencadeou uma profunda reavaliação dos países europeus de suas relações individuais e coletivas com a China, assim como de seus laços econômicos e políticos.
Políticos alemães, por exemplo, que agora reconhecem equívocos históricos em manter proximidade com a Rússia, estão começando a rever o risco de repetir o erro com outro regime autoritário – fazendo soar o alarme sobre o status da Alemanha como o maior parceiro comercial europeu da China.
Países da Europa central e do leste também passaram a questionar se ainda é oportuno manter o chamado fórum 16+1 com a China. A Itália, numa ação direcionada a Pequim, acaba de reforçar seu poder de veto contra aquisições estrangeiras.
No nível da União Europeia (UE), a relação azedou com a recusa da China em condenar a invasão russa à Ucrânia e suas tentativas de minar a unidade que a guerra promoveu no Ocidente. A cúpula virtual UE-China em 1º de abril ocorreu, segundo uma pessoa a par das discussões, no contexto diplomático de uma relação cada vez mais desafiadora.
Diante da guerra na Europa, a principal prioridade para a UE era convencer a China a usar sua influência com a Rússia para impedir o derramamento de sangue, disse essa fonte, acrescentando que há uma séria preocupação de que a contínua inação da China tenha um impacto negativo duradouro nas relações da UE.
Após a cúpula, o Ministério das Relações Exteriores de Pequim disse que o presidente Xi Jinping pediu à Europa que tenha uma visão “autônoma” da China e que a solução para o conflito estava em acomodar “as preocupações razoáveis de segurança de todas as partes” – o que pode ser entendido como uma concordância com a retórica de Moscou para justificar a guerra.
É improvável que Pequim esteja feliz com a instabilidade e a turbulência econômica trazidas pela guerra promovida por Vladimir Putin. Mas mesmo que sua capacidade de influenciá-lo seja limitada, a UE argumenta que a China tem canais únicos e bastante efetivos que poderia usar para tentar convencer Putin a parar a guerra.
A visão de um diplomata europeu em Pequim é que o conflito tem afastado ainda mais a China e a Europa. A pandemia e a percepção dos europeus de que dependiam da China para suprimentos médicos básicos foram o primeiro alerta. A guerra na Ucrânia, agora, está consolidando o argumento de que a Europa deve reduzir sua dependência de Pequim, acrescentou o diplomata.
A China ultrapassou os EUA como o maior parceiro comercial da UE em 2020, com um comércio total de US$ 868 bilhões no ano passado. Mas as considerações geopolíticas estão agora influenciando as empresas europeias que operam na China.
Uma pesquisa com 391 membros de câmaras de comércio empresas europeias mostrou que um terço deles planeja suspender negócios ou investimentos planejados na China, enquanto 46% viram uma diminuição na atratividade do mercado chinês. Cerca de 10% disseram que os negócios existentes na China podem ser movidos para outros locais e 27% disseram esperar que a diversificação se acelere na Ásia – com as empresas construindo cadeias de suprimentos mais diversificadas e para atender a mercados específicos.
Para Joerg Wuttke, que dirige a Câmara de Comércio da UE na China, “o tipo de imagem pública que a China projeta quando se trata da Ucrânia está realmente fazendo a diferença”. Tomado junto com sua política de “covid-zero” e as interrupções associadas aos negócios, “o que realmente importa agora é a percepção de que a China está se tornando pouco confiável”, disse ele.
Fonte: Valor Econômico

