Especialista espera aumento dos casos no país mas considera que não há razão para pânico
Por Rafael Vazquez — De São Paulo
17/06/2022 05h01 Atualizado há 3 dias
O Brasil confirmou na última quarta-feira o quinto caso de “monkeypox”, termo sugerido pelo Ministério da Saúde para se referir à chamada varíola dos macacos – três infectados em São Paulo, um no Rio de Janeiro e outro no Rio Grande do Sul. Embora a perspectiva seja de que mais casos apareçam, a vice-diretora de Serviços de Referência, Coleções Biológicas e Ambulatórios do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Maria de Lourdes Oliveira, sugere que é preciso evitar pânico entre a população e vê chance muito pequenas de que a situação exija medidas drásticas como ocorreu no início da pandemia de covid-19.
“Não temos como prever qual vai ser a incidência. Temos que estar atentos, preparados, mas não será algo como a covid”, disse. “As pessoas estão angustiadas, mas pela forma de transmissão, é improvável que tenha a magnitude que um vírus respiratório potencial tem.”
Nesta semana, o IOC/Fiocruz foi nomeado como Laboratório de Referência do Ministério da Saúde na doença. Assim, irá analisar amostras suspeitas de infecção pelo vírus no Estado do Rio e de toda a região Nordeste. Também realizam esse trabalho de confirmação a Fundação Ezequiel Dias, o Instituto Adolfo Lutz e a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Cada um analisa casos suspeitos de diferentes regiões do país.
Maria de Lourdes, que coordena os 24 laboratórios do IOC/Fiocruz que prestam serviços de referência para Secretarias de Saúde e Ministério da Saúde, diz que sua equipe ainda não confirmou nenhum caso suspeito, até o momento, mas acredita que é questão de tempo, considerando a evolução da doença em outros países.
Segundo boletim divulgado pelo Ministério da Saúde, que criou uma sala de situação para acompanhar diariamente a disseminação do vírus no Brasil e no mundo, o surto atual já resultou na confirmação de 1.981 casos distribuídos em 36 países. A grande maioria está na Europa, com 524 casos confirmados no Reino Unido, 313 na Espanha, 241 em Portugal, 263 na Alemanha e 125 na França.
A especialista diz que a situação exige alerta por parte das autoridades de saúde e cuidados entre a população, mas reforça que é preciso evitar uma onda de pânico. Ela explica que a Organização Mundial da Saúde (OMS) já estuda decretar estado de emergência internacional em relação à varíola dos macacos, mas explica que se trata de um trâmite normal e que isso não significa que a situação sairá do controle ou que haverá alto número de mortes. “É natural. Em termos das vigilâncias sanitárias, ficamos mais alertas em todos os país, mas não é nada de extraordinário. São sistemas de alerta que fazem parte do esquema de vigilância.”
Disse também que o consenso não aponta para a necessidade de desenvolver vacina específica para a doença, inclusive porque a vacina para a varíola humana que boa parte da população nascida até a década de 1980 já tomou, protege também contra o vírus circulante.
Em relação ao uso do termo monkeypox, Lourdes comenta que o estrangeirismo foi sugerido pela Organização Panamericana de Saúde, ligada à OMS, e pelo próprio Ministério da Saúde como estratégia para evitar a estigmatização e agressão a macacos. O surto atual não tem relação com o animal. Embora o vírus tenha sido descoberto em macacos em 1958, roedores também são hospedeiros, explica.
Sobre a versão que circulou de que o surto atual supostamente aconteceu em raves na Europa a partir de sexo entre homens homossexuais, a especialista pede cautela. Segundo ela, a transmissão entre humanos é algo comum e infecções fora das regiões endêmicas, na África Ocidental e na Bacia do Congo, não são novidade. O fator novo é apenas a maior velocidade da transmissão. Ela destaca que a estigmatização relacionada à doença é uma das principais preocupações no momento.
A médica recomenda o uso de máscaras, principalmente em locais internos, e a higienização constante das mãos, considerando improvável a necessidade de distanciamento social. Só infectados precisam de isolamento de 21 dias.
Fonte: Valor Econômico