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No vermelho desde sua fundação, há 13 anos, a plataforma de prescrição médica Memed deixou de ser deficitária e atingiu seu ponto de equilíbrio financeiro (“break even”) em junho. Essa virada na empresa da DNA Capital, gestora que tem entre seus investidores a família Bueno, controladora da Dasa, veio após a criação de um novo negócio que permite às farmacêuticas divulgar seus medicamentos, estudos clínicos e outros conteúdos de saúde na plataforma acessada pelos médicos.
A divulgação envolve também colocar os medicamentos patrocinados no topo da busca – nos mesmos moldes do que ocorre no Google com produtos e serviços patrocinados. Cerca de 100 farmacêuticas já anunciam na plataforma da Memed.
A indústria farmacêutica enxerga valor em ter seus produtos divulgados numa plataforma voltada a profissionais de saúde. Isso porque as fabricantes são vetadas de fazer propaganda de seus remédios. Esse tipo de divulgação só é permitido em ambientes restritos a médicos. Não à toa, ainda é muito comum encontrar propagandistas farmacêuticos visitando os consultórios.
O número de prescrições emitidas via Memed vai crescer 35% neste ano. Já o seu faturamento deve dobrar em 2025 e 2026. Até então, a startup praticamente não tinha ganhos, porque a plataforma é ofertada gratuitamente para médicos, hospitais, farmácias e pacientes. Os fundadores decidiram não efetuar nenhuma cobrança a fim de disseminar no mercado as receitas médicas digitais – um tipo de serviço que não existia em 2012, quando a Memed foi criada. A DNA Capital adquiriu o controle da startup em 2021, após aporte de R$ 300 milhões.
A empresa estima que sua participação de mercado seja de 70%, sendo que a maior parte dos clientes é de médicos especialistas que, em geral, prescrevem remédios com tíquete maior, o que interessa ao varejo farmacêutico. Há 90 mil farmácias usando a Memed. Por mês, em média, 6,7 milhões de receitas e solicitações de exames são emitidas via plataforma da Memed. A empresa estima que esses pedidos movimentaram R$ 15 bilhões no acumulado deste ano.
Sua principal concorrente é a Mevo, startup criada em 2017 que já levantou cerca de R$ 230 milhões com investidores, como a Prosus Venture (fundo ligado à Prosus, dona do iFood), Matrix e Jefferson River Capital, além dos fundadores Pedro Dias e Lucas Lacerda. Entre os clientes da Mevo estão hospitais como BP, Rede D’Or, Sírio-Libanês, entre outros.
A Mevo também não cobra pelo uso de sua plataforma. Os ganhos vêm, entre outras frentes, de um percentual da venda de medicamentos em sua farmácia própria e no varejo farmacêutico parceiro, cuja transação ocorreu por meio da plataforma. A Mevo não divulga as fontes de receita.
A Memed, por sua vez, interrompeu a estratégia de monetizar com a comercialização de remédios. Em agosto, a startup vendeu sua farmácia, uma pequena unidade do bairro do Jabaquara, em São Paulo, para o Mercado Livre. A operação causou alvoroço entre as redes de farmácia, que enxergaram o “Meli” como um concorrente.
A decisão de se desfazer da farmácia e de focar nas parcerias com a indústria farmacêutica foi tomada na gestão de Rodolfo Chung, executivo com 20 anos de Ambev e que, entre outras frentes, implementou a cervejaria na China. Em 2020, primeiro ano da pandemia, Chung voltou ao Brasil para escalar o Zé Delivery, aplicativo de entrega de bebidas, que também foi deficitário por 14 anos.
“Muitos acharam que, devido a minha experiência no varejo eu iria expandir a operação de farmácia, mas o ganho era muito marginal e já há ‘players’ [de farmácia] fortes. Faz muito mais sentido a parceria com a indústria farmacêutica”, disse Chung, que assumiu a presidência da Memed em 2023.
Segundo Chung, hoje apenas 15% das receitas médicas são emitidas de forma on-line. “Há muito espaço para crescer. Acredito que, em dois ou três anos, mais de metade das prescrições serão digitais. Nosso crescimento [receita] neste ano será de 35%”, disse o executivo, que não revela o faturamento da Memed.
Essa expansão no mercado deve vir de algumas frentes, entre elas, uma flexibilização na regulamentação. A Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) pretende permitir a emissão eletrônica de receitas amarelas e azuis (para remédios controlados), que hoje estão disponíveis apenas em formato físico.
Em paralelo, a Memed trabalha no desenvolvimento de melhorias para tornar a receita digital mais recorrente, principalmente, entre os médicos mais velhos que ainda têm resistência. Uma das novidades é a dispensação parcial de medicamentos conforme o tempo do tratamento. Hoje, o cliente precisa levar todas as caixas indicadas na receita no momento da compra.
A plataforma tem cadastrados 300 mil médicos, sendo que 140 mil emitiram prescrição digital no último mês via Memed. Atualmente, há no Brasil cerca de 500 mil médicos. A meta da startup é alcançar 400 mil inscritos ativos até 2029.
Fonte: Valor Econômico