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Às vésperas das decisões de política monetária no Brasil e nos Estados Unidos, a dinâmica de piora das expectativas de inflação voltou a pesar na dinâmica dos juros futuros, em um ambiente que ainda contempla um déficit primário do setor público consolidado maior que o estimado pelo mercado. A bolsa registrou perdas, em um dia negativo para as ações da PetrobrasCotação de Petrobras. O câmbio, porém, se desvencilhou do contexto desfavorável para os ativos locais e o dólar fechou em queda contra o real.
No entanto, a sensação de que a depreciação do câmbio pode ser, em boa medida, definitiva, continuou no radar. No Boletim Focus, a piora das expectativas para o real se consolidou. Embora a mediana das projeções para o dólar no fim deste ano tenha se mantido em R$ 5,30, o ponto-médio das estimativas para a cotação da moeda americana em 2025 e em 2026 passou de R$ 5,23 para R$ 5,25.
O dólar encerrou o dia a R$ 5,6255, em queda de 0,57%, em um movimento que destoou de outras moedas ao redor do globo. No entanto, diante da piora recente do câmbio doméstico e da dinâmica desfavorável das expectativas inflacionárias, a ansiedade que recai sobre a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de amanhã tem tomado conta do mercado de juros, que continua a embutir nos preços um aumento de 1 ponto percentual na Selic até o fim deste ano.
Enquanto o horizonte relevante da política monetária deve abarcar, em especial, o ano-calendário de 2025, o Boletim Focus voltou a mostrar um aumento na mediana das projeções dos economistas de mercado para o IPCA do próximo ano, que passou de 3,90% para 3,96%. A inflação “implícita” também voltou a subir: a inflação extraída da NTN-B com vencimento em maio de 2025 passou de 4,59% para 4,62%.
Nesse ambiente, e diante de um contexto que contempla uma situação fiscal pior, como mostraram os dados de junho, os juros futuros voltaram a subir. A taxa do DI para janeiro de 2026 avançou de 11,705% para 11,73%, enquanto a do DI para janeiro de 2029 passou de 12,15% para 12,18%.
Em nota, os profissionais da Legacy Capital observam que o desvio da projeção no modelo de inflação do Banco Central em relação ao centro da meta, no cenário de juros estáveis ao longo do horizonte relevante, sempre foi um bom indicador da postura monetária a ser implementada pelo Copom. Eles notam que, durante os períodos em que os desvios foram respondidos com afrouxamento ou aperto das taxas de juros, o BC obteve sucesso relativo no cumprimento da meta.
“Nossas estimativas sugerem que a projeção de inflação a ser apresentada pelo BC, na reunião do Copom da próxima semana, no cenário com juros estáveis, dificilmente será inferior a 3,4%. O patamar de desvio de 0,4 ponto seria compatível com elevação imediata dos juros já nesta próxima reunião”, aponta a Legacy.
Para os profissionais da gestora, nesse contexto, o BC precisaria preparar o mercado para um provável aumento na Selic já na reunião de setembro, “sob pena de induzir depreciação ainda maior da taxa de câmbio e desancoragem adicional das expectativas de inflação, o que tornaria o trabalho de reenquadramento da inflação à meta mais custoso, no futuro”.
Vale apontar, ainda, que a sessão de ontem foi marcada por uma leve queda dos rendimentos dos Treasuries – a taxa da T-note de dez anos caiu de 4,200% para 4,179% -, enquanto as bolsas de Nova York rondaram os ajustes. O índice Dow Jones caiu 0,12%; o S&P 500 subiu 0,08%; e o Nasdaq ganhou 0,07%, em um ambiente de ampla expectativa pela decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed), também na quarta-feira.
Já o Ibovespa não resistiu à alta dos juros futuros e à indefinição externa e encerrou o pregão em queda de 0,42%, aos 126.954 pontos. Em dia de queda do petróleo no mercado internacional, as ações ordinárias da PetrobrasCotação de Petrobras cederam 2,52%, enquanto as preferenciais caíram 2,02%, diante da possibilidade de a petroleira aumentar seus ativos e diminuir a distribuição de dividendos, o que pesou sobre a bolsa brasileira.
“O conjunto da obra acaba impactando mais do que dados isolados”, diz o gestor Eduardo Grübler, da AMW, gestora de ativos da Warren. Para ele, a divulgação do decreto de programação orçamentária e financeira do governo, no qual será detalhado como o congelamento de R$ 15 bilhões irá ocorrer, poderá dar o tom de que cortes nas despesas poderão de fato ser executados.
“O mercado parece estar dando o benefício da dúvida para o governo, mas precisa de algo mais palpável, para mostrar que não vai ter uma benesse fiscal durante os próximos períodos”, diz o gestor. “Mas o mercado dá sinais claros de que precisa de apenas dois ou três dados que sejam factíveis. O pessoal quer ver a bolsa subir.”
Grübler destaca, ainda, a entrada de capital estrangeiro em julho na bolsa, com superávit de R$ 4,28 bilhões até o momento. “Não quer dizer que os desafios do Brasil não sejam importantes, mas o fluxo que vem de fora acaba mudando a conversa e é determinante para a bolsa no curto e médio prazo.”
Fonte: Valor Econômico

