Por Matheus Prado — De São Paulo
20/09/2023 05h03 Atualizado há 5 horas
O time de renda variável da Kinea aumentou seu nível de otimismo com a bolsa local. Antes “cautelosamente otimista” com a classe de ativos, Rafael Oliveira, gestor de fundos de ações da casa, diz ter trocado agora o advérbio para “criteriosamente”, antecipando que a combinação entre juros em queda e alta das commodities trará o fluxo que tem faltado.
“As ações continuam descontadas. O juro real fechou bastante nos últimos meses e isso teve reflexo limitado na bolsa. O cenário de queda de juros já contratado no Brasil é benéfico para as empresas, ajuda na alavancagem, na venda de produtos. Só falta o fluxo”, diz, acreditando que essa dinâmica ocorrerá de fora para dentro.
Segundo o executivo, em linha com o maior volume de estímulos anunciados nas últimas semanas, o governo chinês parece ter entendido que não poderia continuar tocando a economia de forma passiva. Agora, diz, a tendência é que incentivos sigam sendo apresentados por lá, até para o país construir carrego de atividade para 2024.
“Pode não ser um boom de commodities, mas matérias-primas em patamares altos é algo bom para as receitas do país e para a bolsa, por conta da sua composição. A China já atuou de forma contracíclica em outros períodos, como em 2016. Ali, mesmo com os Treasuries subindo em 2018, a bolsa local conseguiu continuar avançando”, diz.
Ele acredita que esse cenário de juros locais para baixo e China reacelerando, somado à escassez de opções entre emergentes, tende a trazer fluxo estrangeiro de volta à bolsa brasileira via EWZ (o principal ETF, ou fundo de índice, de ações locais negociado na Bolsa de Nova York, a Nyse). Isso, por sua vez, pode fazer com que investidores institucionais locais, como fundos de investimentos, aumentem de novo sua exposição à modalidade.
“Resgates e captações têm se equilibrado nas últimas semanas, o que é bom porque diminui o desmonte forçado de posições. Mas os fundos multimercado, que até entraram na bolsa durante o rali, voltaram a diminuir suas posições temendo uma desaceleração mais forte dos países desenvolvidos e, principalmente, por conta do ceticismo em relação ao cenário macro local”, diz, ao citar uma sondagem divulgada ontem pela Quaest que sugere queda da aprovação do governo entre operadores do mercado. “Se o estrangeiro vier com força, no entanto, puxa os locais.”
Setorialmente, ele nota que consumo e construção civil sempre se beneficiam da queda das taxas, mas que setores como shoppings, utilities e infraestrutura podem avançar com o combo de recuo do juro real e inflação surpreendendo para baixo. Entre as commodities, destaca que problemas de oferta de açúcar tendem a continuar impulsionando o setor. E que, se o petróleo se mantiver no patamar atual, será bom para as contas públicas e empresas do setor.
“O minério está mais difícil de ler. O processo inflacionário que ocorreu no mundo pode ter feito a régua de preços da commodity subir um pouco e a China tem produzido e exportado muito aço. Não temos clareza, mas o patamar atual é positivo.” Ele diz, por outro lado, que a tese otimista deixa de fazer sentido caso a China volte a decepcionar e a inflação continue surpreendendo para cima nos EUA a ponto de o Federal Reserve (Fed) ter que voltar a subir juros.
Nos fundos macro, a exposição da Kinea em bolsa está em linha com o histórico, priorizando teses domésticas com resiliência operacional e que podem ampliar ganhos com a queda de juros. Marco Freire, diretor de investimentos da gestora, diz que a posição absoluta não é maior por temores de que os juros nos EUA permaneçam elevados por mais tempo, o que restringiria o espaço para o Banco Central cortar a Selic por aqui.
Fonte: Valor Econômico

