Uma nova pesquisa feita pelo Banco Central com expectativas de inflação de empresas enfraquece uma tese muito comum de que o mercado financeiro está descolado do setor real da economia e exagera as suas projeções para o índice de preços.
A pesquisa Firmus, cujos primeiros dados foram divulgados nesta segunda-feira (12), mostra que em maio os empresários estimavam uma inflação de 4% em 2024 e de 4% também em 2025, ambas acima da meta definida pelo governo, de 3%.
Os percentuais, que foram coletados em maio, superam aqueles informados pelos analistas econômicos do sistema financeiro. No boletim Focus, o mercado projetava 3,89% para 2024 e 3,77% para 2025.
Os resultados da pesquisa do Banco Central não diferem muito de pesquisas de expectativas de inflação coletadas no exterior. Nos Estados Unidos, por exemplo, a pesquisa SoFIE, feita pelo Federal Reserve (Fed) de Cleveland, mostra expectativas empresariais acima das que são coletadas junto ao mercado, e em geral abaixo do sentimento sobre a inflação de enquetes com consumidores.
A nova pesquisa do Banco Central, que ainda está em fase piloto, amplia o grupo de indicadores sobre expectativas que são analisados pelo Comitê de Política Monetária (Copom). Além das expectativas informadas no boletim Focus, o BC também extrai projeções de inflação a partir dos preços de títulos negociados no mercado financeiro.
Desde que foi criado o boletim Focus, com a adoção do regime de metas de inflação, há uma crítica frequente de que essa pesquisa deixa o Banco Central refém das opiniões do mercado financeiro.
As expectativas de inflação alimentam os modelos de projeção de inflação do próprio Banco Central e, quando as projeções Focus estão acima da meta, o seu cumprimento fica mais custoso. Isso vem acontecendo desde o segundo semestre de 2022, quando as expectativas de mercado entraram numa trajetória de desancoragem.
Alguns analistas alegam que, na prática, o mercado obriga o Banco Central a praticar juros mais altos, ao divulgar projeções de inflação exageradamente altas.
O Banco Central sempre argumentou que as projeções Focus são mais rápidas para refletir o que, de fato, está acontecendo na inflação, porque essa é uma informação muito importante que pode determinar quem ganha e quem perde ao assumir posições de investimento no mercado.
Além disso, o Banco Central cria incentivos para os analistas informarem as suas melhores estimativas para a inflação e outras variáveis econômicas. Um deles é o ranking dos que mais acertam, o chamado Top 5. Muitas empresas financeiras divulgam essas estatísticas em propagandas para angariar mais clientes.
Ainda assim, as projeções do Focus não são perfeitas. No geral, elas mais subestimam do que superestimam a inflação.
Nos Estados Unidos, alguns acadêmicos fizeram pesquisas para tentar entender porque os empresários, em geral, têm expectativas de inflação acima dos analistas econômicos. Uma das hipóteses é que o empresariado acompanha menos a política monetária. Por lá, é alto, por exemplo, o percentual de empresários que desconhece a meta de inflação.
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Fonte: Valor Econômico

