Por Alex Ribeiro, Valor — São Paulo
27/09/2023 11h21 Atualizado há 3 horas
O mercado financeiro estima que os riscos de a inflação ficar acima do que a projetada em 2024 são maiores do que os de ficar abaixo, mostra o questionário pré-Copom, feita às vésperas da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.
Esse é um contraste em relação ao balanço de riscos adotado pelo próprio Copom, que vê chances iguais de a inflação de 2024 superar ou ficar abaixo dos 3,5% projetados no seu cenário central.
Os dados do questionário, divulgados nesta manhã, mostram que 36% dos analistas acham que a inflação ficará acima do projetado (na mediana, 3,9%), enquanto 13% achavam que ficaria abaixo. Na reunião anterior, havia mais equilíbrio: 23% apontavam riscos altistas e 19% apontavam riscos baixistas.
O questionário não informa porque os analistas veem mais riscos altistas para a inflação, mas perguntas do próprio relatório dão algumas pistas. O mercado vê riscos de um impacto importante do El Niño, o cenário internacional piorou, assim como a evolução da política fiscal. Para completar, o mercado vê uma economia com menos capacidade ociosa, no passado e no futuro.
O El Niño poderia gerar um impacto importante na inflação, de 0,58%. Mas uma pequena parcela disso, de apenas 0,1%, está incorporada nas projeções. A ata do Copom, divulgada ontem, revelou que alguns membros do colegiado estão mais preocupados do que outros sobre o impacto do El Niño, que foi apenas parcialmente incorporado na projeção oficial. O balanço de riscos do Copom não lista explicitamente esse fator como algo importante.
A pesquisa pré-Copom aponta que 68% dos analistas acreditam que a situação externa piorou, embora não haja detalhamento sobre se isso seria bom ou não para baixar a inflação.
No caso da política fiscal, 37% acham que houve piora no quadro. O dado surpreende um pouco, já que muitos achavam que o envio da proposta do Orçamento para o Congresso, com grande incerteza sobre como será cumprido a meta fiscal, foi um sinal de deterioração da política fiscal. A maioria do mercado financeiro, com 63%, acha que a situação ficou estável ou melhorou.
O mercado também reviu a sua estimativa para o nível de ociosidade da economia, o que em tese deveria levar a uma inflação mais alta. A estimativa mediana é que a economia operava acima da sua capacidade, em 0,3%, no primeiro trimestre. Anteriormente, o sobreaquecimento estava estimado em 0,2%.
Pelo menos 25% dos analistas acham que havia capacidade ociosa, de 0,4% – o que poderia ajudar a explicar porque preços mais ligados ao ciclo econômico, como uma parcela dos serviços, apresentaram recuo nos últimos meses.
O mercado acha que haverá aumento da ociosidade da economia apenas em 2024, ainda assim bem pequena, de 0,2%. Para o fim deste ano, a capacidade ociosa foi estimada em zero. No relatório anterior, o mercado estimava ociosidade de 0,2% no fim de 2023 e de 0,4% no fim de 2024. De lá para cá, o dado mais importante foi a divulgação do PIB do segundo trimestre, em 0,9%, maior do que o esperado.
O conjunto da pesquisa pré-Copom parece um pouco contraditório, já que o mercado vê ao mesmo tempo uma ociosidade menor e reduz previsão para a inflação subjacente de serviços, que vê como cadente ao longo do tempo. Caiu de 5,6% para 5,1% para 2023 e de 4,6% para 4,5% em 2024.
Fonte: Valor Econômico

