O resultado do IPCA-15 de novembro mostrou uma inflação num nível desconfortável, com alta forte das cotações de alimentação em domicílio e sinais de que o dólar caro começa a afetar alguns preços. Os números dos serviços mais sensíveis à demanda e dos núcleos (que buscam eliminar ou reduzir a influência dos itens mais voláteis) não foram muito desfavoráveis, embora tenham subido na média de três meses anualizada e com ajuste sazonal. Embora não seja explosivo, é um quadro inflacionário preocupante, indicando dificuldades para o Banco Central (BC) trazer a inflação para a meta de 3%, especialmente se não houver alívio expressivo no câmbio, o que depende principalmente da redução das incertezas fiscais.
O IPCA-15 subiu 0,62% em novembro, acima do consenso dos analistas ouvidos pelo Valor Data, de 0,48%. Com isso, o acumulado em 12 meses passou de 4,47% para 4,77%, superando assim o teto da banda de tolerância da meta, de 4,5%. Houve aceleração expressiva do grupo alimentação no domicílio, de 0,95% em outubro para 1,65% em novembro, puxada por carnes, óleo de soja e tomate. Passagens aéreas também avançaram com força, um aumento de 22,56%, muito acima das projeções dos analistas. Foi a maior contribuição individual para o alta do IPCA-15, uma prévia da inflação oficial do país.
O dólar caro, cotado hoje na casa de R$ 5,80, pode ter exercido alguma influência na alta dos alimentos em domicílio, mas os principais fatores para o aumento forte são outros. O economista Fábio Romão, da LCA Consultores, destaca, no caso das carnes, a questão da sazonalidade e dos efeitos da estiagem. O impacto do câmbio desvalorizado aparece tipicamente nos bens industriais, que subiram 0,26% em novembro.
Não é um aumento significativo, mas é uma variação bem maior que a registrada há um ano, quando os preços desses produtos caíram 0,14%. “O fato de ter superado o mesmo mês de 2023 pode ter algum efeito do câmbio”, diz Romão. O risco maior do dólar nas alturas é pressionar esses bens com mais força nos próximos meses, caso as cotações não recuem. Em 12 meses, a inflação de produtos industriais no IPCA-15 subiu de 1,6% em outubro para 2,05% e novembro.
Os cinco núcleos acompanhados com mais atenção pelo BC tiveram alta de 0,4% neste mês, abaixo dos 0,43% de outubro. Em 12 meses, porém, houve alta de 3,81% para 3,95%. Além disso, também houve piora numa das medidas preferidas dos analistas para avaliar a inflação de curto prazo: na média de três meses anualizada e com ajuste sazonal, esses núcleos subiram de 4,4% para 4,6%.
No caso dos serviços mais sensíveis à demanda, também ocorreu uma aceleração nessa medida de curto prazo – a média anualizada dos três meses até novembro, ajustada sazonalmente, avançou para 5,6%, depois de atingir 5% até outubro. Na variação mensal, esses serviços tiveram alta de 0,45%, desacelerando-se em relação aos 0,59% do mês anterior.
Um IPCA entre 4,5% e 5% neste ano contaminará a inflação do ano que vem, dada a elevada inércia no país – o fenômeno pelo qual a inflação passada alimenta a inflação futura. Já há quem preveja um indicador em 5% em 2025, como o Itaú Unibanco. As expectativas para o IPCA de 2026 também seguem em alta, subindo de 3,7% para 3,78%, como mostrou o Boletim Focus divulgado ontem. Com as projeções se distanciando da meta de 3% e o câmbio desvalorizado, a avaliação dominante é que o BC terá que promover um aumento mais forte da Selic, que poderá superar 13% no fim do ciclo de alta da taxa, hoje em 11,25%.
A redução das incertezas sobre as contas públicas poderia mudar esse quadro, o que exigiria por medidas firmes de combate ao crescimento das despesas obrigatórias. O pacote fiscal a ser anunciado nesta semana, que pode poupar R$ 70 bilhões em dois anos, não deve ter esse impacto, produzindo um alívio mais modesto sobre o câmbio. O resultado deve ser uma Selic mais alta por mais tempo.
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Fonte: Valor Econômico

