Os investimentos estrangeiros em renda fixa dentro do país chegaram a US$ 4,323 bilhões em setembro, mês em que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central iniciou um novo ciclo de alta de juros.
A Selic mais alta, que subiu de 10,5% ao ano para 10,75% ao ano, torna mais rentável o investimento dos estrangeiros, comparativamente com o exterior. Em setembro, o Federal Reserve (Fed, o BC americano), reduziu a sua taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual, para a faixa entre 4,75% e 5% ao ano.
Normalmente, os fluxos de investimentos estrangeiros em renda fixa são muito voláteis, com meses alternando fluxos positivos e negativos. Mas os dados do balanço de pagamentos, divulgados nesta manhã pelo BC, parecem apontar uma tendência de ingressos.
Desde maio, quando o Copom fez uma inflexão na política monetária, interrompendo o ciclo de baixa da Selic, foram registrados fluxos positivos em quatro dos cinco meses. No período, os ingressos somam US$ 10,129 bilhões – e, em 12 meses, US$ 10,653 bilhões.
Os fluxos de entrada de recursos para renda fixa no país costumam acompanhar de perto os ciclos de aperto e distensão monetária. Ao longo de 2021, quando o Copom passou a subir os juros para enfrentar um surto inflacionário causado pela pandemia, os ingressos líquidos acumulados em 12 meses chegaram a um pico de US$ 22 bilhões.
No ano anterior, 2020, quando o BC baixou o juro a 2% para evitar que a pandemia causasse uma recessão mais profunda, a saída de recursos estrangeiros chegou a um pico de US$ 28 bilhões em 12 meses. Naquele período, as saídas foram motivadas também pela aversão a risco.
Esses ingressos de recursos estrangeiros, que visam ganhos de curto prazo com juros, são esperados nos ciclos de alta da Selic justamente porque fazem parte dos mecanismos de transmissão da política monetária para baixar a inflação. Se nada mais atrapalhar, os juros altos devem atrair capitais estrangeiros e levar a uma queda da cotação do dólar ante o real, favorecendo a queda da inflação.
Em setembro, a taxa de câmbio brasileira teve uma valorização de 3,68%, caindo a R$ 5,45 no fechamento do mês. De lá para cá, o dólar subiu, e na manhã desta terça-feira (29) estava cotado por volta de R$ 5,72.
Mas a diferença entre as taxas de juros básicas interna e externa não é o único fator que tem impacto no fluxo de capitais.
O crescimento das incertezas fiscais ou uma maior aversão a risco no cenário internacional podem fazer investidores estrangeiros exigirem um maior prêmio para cobrir os riscos de comprar papéis do Tesouro brasileiro.
Fonte: Valor Econômico

