O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse na manhã desta sexta-feira (16) que o balanço de riscos para a inflação não foi declarado assimétrico porque não houve consenso entre os membros do Comitê de Política Monetária (Copom).
A declaração abre a possibilidade de que, na verdade, a maioria dos membros do Copom considerou o balanço de riscos para a inflação assimétrico em reunião realizada há duas semanas.
A ata desse encontro diz que “vários membros” enfatizaram a assimetria no balanço de riscos para a inflação. A palavra “vários” é neutra o suficiente para abarcar a maioria dos membros ou uma minoria mais numerosa.
O balanço de riscos é um mapeamento que o Copom faz dos principais fatores que podem fazer a inflação superar o projetado ou ficar abaixo dele. Quando vários membros dizem que veem um balanço de riscos assimétrico, isso significa que eles acham que os riscos de a inflação surpreender para cima superam os riscos de surpreender para baixo. Isso, em tese, demanda uma política de juros mais cuidadosa.
Muitos participantes do mercado vinham tendo a interpretação equivocada de que um eventual balanço de riscos para a inflação assimétrico para o lado negativo seria uma sinalização de uma alta de juros na reunião seguinte do Copom.
Membros do colegiado, como o diretor de política monetária do BC, Gabriel Galipolo, disseram que o balanço de riscos não é um “guidance” – ou uma indicação sobre o que fazer no futuro – para a taxa básica de juros.
Mas o balanço de riscos é uma fotografia do estado de espírito do Copom a cada reunião. Galípolo, por exemplo, deu uma mensagem conservadora quando disse que estava entre os “vários membros” que destacam os riscos altistas da inflação em relação aos baixistas.
O que importa para a decisão do Copom em setembro é o que o comitê pensará do balaço de riscos naquele momento.
Campos Neto foi questionado no evento de hoje, organizado pelo banco Barclays, qual foi a visão dele sobre o balanço de riscos.
Ele não respondeu diretamente e, no lugar, preferiu destacar que “há muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo” e que, portanto, vale a pena observar a evolução do cenário econômico até a próxima reunião para reavaliar a situação.
Ou seja: ele colocou o foco no balanço de riscos e no cenário inflacionário mais geral que o Copom vai encontrar em setembro, minimizando a importância da situação observada em julho na definição da taxa Selic.
Ainda assim, o balanço de riscos de julho é importante porque é o ponto de partida para o quadro que será visto em setembro. Apesar de não ter havido unanimidade para declarar o balanço de riscos assimétrico em julho, disse Campos Neto, houve consenso de que numericamente havia mais riscos altistas do que baixistas para a inflação.
Se a decisão sobre o balanço de riscos é consensual, obviamente não há acordo para declarar sua simetria, ou seja, equilíbrio entre fatores altistas e baixistas da inflação, já que vários membros acham que é assimétrico. Estaria numa zona cinzenta entre uma situação e outra.
É um fator a mais que indica o estado de preocupação do Copom na última reunião, mas não deveria ser um indicador do que o colegiado pretende fazer em setembro.
O mesmo raciocínio vale para a projeção de inflação de 3,2%. No passado, o Copom já considerou esse percentual estatisticamente perto da meta. Mas Campos Neto disse que havia uma preocupação não deixar que a projeção de inflação comunicasse a mensagem errada. O Copom está desconfortável com o quadro atual, colocou a possibilidade de subir o juro na mesa e vai decidir apenas em setembro o que fazer com a meta da taxa Selic.
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Fonte: Valor Econômico

