Por César Felício, Valor — Brasília
17/10/2023 12h07 Atualizado há 21 horas
CPIs historicamente nunca são favoráveis ao governo, mas não se consegue lembrar de um só caso em que tenham sido a favor . Sendo assim, o fato da CPMI do 8 de Janeiro terminar com um relatório incriminando o principal líder da oposição, Jair Bolsonaro, é uma vitória por si só do Palácio do Planalto. Mesmo tendo poucas consequências de ordem prática.
A base governista no colegiado não foi atropelada pelos fatos e manteve coesão necessária para bloquear todas as iniciativas da oposição, ao longo do funcionamento da CPI.
À tropa de choque bolsonarista restou tentar tumultuar os trabalhos, lançando mão até do deboche, como comprova a atuação do deputado Abílio Brunini ( PL-MT), que chegou a ser expulso do plenário; ou também do deputado Marcos Feliciano (PL-SP), que se envolveu em polêmicas até sobre desenho de sobrancelhas. Mas os oposicionistas também saem com um saldo: o relatório lido pela senadora Eliziane Gama (PSD-MA) nessa terça-feira está assentado em bases frágeis.
Indicia o ex-presidente Jair Bolsonaro, o ex-ministro da Defesa e Casa Civil general Walter Braga Netto e o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha. Mesma situação dos ex-comandantes do Exército e da Marinha general Freire Gomes e almirante Almir Garnier, respectivamente.
Nenhum deles foi convocado, o que fragiliza o princípio da ampla defesa. Mas os oposicionistas falharam em seu principal objetivo, que era o de fazer depor o ministro da Justiça, Flávio Dino. Um acordo tácito parece ter sido feito nos bastidores pra baixar a temperatura.
A CPI em nenhum momento empolgou a opinião pública, como foi o caso de CPIs recentes, como a da Covid, em 2021. Não trouxe revelações. Praticamente nada que foi dito em suas sessões já não tinha sido divulgado de uma maneira ou outra pelas investigações em curso.
O momento mais bombástico talvez tenha sido o depoimento do hacker Walter Delgatti Neto, em 17 de agosto. Foi ele que incriminou diretamente Bolsonaro em uma conspiração para acabar com a democracia. É uma testemunha de credibilidade discutível.
Fonte: Valor Econômico

