O economista Gabriel Galípolo passou hoje no primeiro teste político com a sua aprovação pelo placar de 26 a 0 pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado para ser o futuro presidente do Banco Central. Antes dele, o único que tinha conseguido unanimidade havia sido o atual titular do cargo, Roberto Campos Neto.
É curioso que essas aprovações na CAE tenham ocorrido num período de alta polarização política. Nos dois casos, deve-se ao cuidado com as relações interpessoais. Ambos fizeram todo o esforço para visitar e conversar com o maior número possível de senadores.
Na sabatina, Galípolo tinha potencialmente que lidar com dois flancos. Da bancada bolsonarista, haveria questionamentos sobre a manutenção da independência do BC, depois que o presidente Lula desferiu ataques contra Campos Neto. Da própria base do PT poderia haver ataques à política de juros altos, agora que o Comitê de Política Monetária (Copom) sobe os juros.
No fim das contas, a bancada bolsonarista fez questionamentos sobre a independência do BC, mas sempre preservando Galípolo – descrito por todos como um quadro técnico – e centrando os ataques em Lula. “Lamento que V. Sa. vá ser [banqueiro central] de um governo de esquerda”, disse a senadora Damares Alves (Republicanos-DF).
O economista ficou mais protegido não apenas porque prestou visitas de cortesia aos senadores de direita, mas também devido à atuação nos bastidores do atual presidente do Banco Central, que tem trânsito na direita.
Os senadores petistas e mais à esquerda fizeram questionamentos muito laterais aos juros altos, sem confrontar Galípolo, que foi um dos votos em favor do início do ciclo de alta de juros. O governo Lula conseguiu controlar a sua bancada, que vinha criticando Campos Neto pelos juros altos.
Juros altos não são populares em nenhuma das bancadas do Congresso, independente da inclinação política, segundo levantamentos sobre o clima entre os parlamentares que circulam no Banco Central.
Em 2002, quando Henrique Meirelles foi sabatinado, o PT barrou a participação da então senadora do partido, Heloísa Helena (AL), que havia anunciado publicamente que iria voltar contra a indicação de um banqueiro para o cargo. Meirelles foi aprovado com um placar de 21 a 5.
Habilidade política não parece ser, à primeira vista, a principal qualificação de um banqueiro central. Mas, num livro recente, o ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) Ben Bernanke dá um conselho precioso aos seus colegas: nunca se esqueça que o seu chefe é o Congresso Nacional.
É o Senado que tem o poder de aprovar, com maioria absoluta, a exoneração de membros do BC, no caso de desempenho insuficiente. O atual titular do Fed, Jerome Powell, nunca foi reconhecido como um grande especialista em política monetária. Mas tem ótimas habilidades políticas, que ajudaram a protegê-lo de pressões do ex-presidente Donald Trump, que durante seu mandato criticou a condução dos juros.
Logo no início de seu mandato, Campos Neto percebeu que teria que se aproximar do Centrão se quisesse aprovar os projetos legislativos de interesse do Banco Central, como a nova lei cambial, os depósitos voluntários e a própria independência da autoridade monetária. Hoje, no topo das prioridades do BC está a autonomia administrativa da autarquia, mas há outros temas importantes, como uma nova lei de resolução de crises bancárias.
A aprovação unânime na CAE é apenas o primeiro teste político, e ninguém garante que será fácil nos próximos anos. Em 2010, Alexandre Tombini foi aprovado por 22 a 1. Quando começou a subir os juros, em 2013, foi algo de críticas da bancada mais à esquerda do PT nas audiências públicas na comissão. Quem fazia o papel de defendê-lo era a oposição, então a bancada tucana.
O placar mais apertado na CAE foi com Ilan Goldfajn, que recebeu 18 votos a favor e 8 contra, no clima conflagrado do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Arminio Fraga, em 1999, recebeu os ataques mais virulentos pelo PT – foi chamado de lobo em pele de cordeiro, por ter saído do fundo de hedge de George Soros para presidir o BC. No fim, foi aprovado por 21 votos a 6.
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Fonte: Valor Econômico

