Por Alex Ribeiro, Valor — São Paulo
19/01/2023 08h54 Atualizado há uma hora
A entrevista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ontem na GloboNews aumenta a pressão sobre o Banco Central para adiar cada vez mais um possível ciclo de corte na taxa básica de juros, que atualmente se encontra em 13,75% ao ano.
Lula colocou-se frontalmente contra a independência em lei do Banco Central e defendeu uma meta de inflação mais alta, em 4,5%. O provável desdobramento será uma alta das expectativas de inflação. A dúvida é sobre onde as projeções de mercado vão se estabilizar.
Se não houver nenhuma antecipação, a discussão sobre a meta de inflação ocorre apenas na reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) em junho. O que está em jogo é apenas a definição do objetivo de 2026, mas em tese seria possível alterar também o objetivo de 2025, hoje estabelecido em 3%, ou até anos anteriores.
Nas próximas semanas, é provável que os analistas econômicos coloquem na sua conta pelo menos o risco de uma mudança da meta. Isso faria com que a projeção de inflação de 2026, que já está em 3,22%, siga tendência de alta. Também deve ser afetada a projeção de inflação de 2025, atualmente em 3,5%.
Fica mais difícil, por outro lado, a tarefa do Banco Central de manter o controle das expectativas de 2024, que atualmente se encontram em 3,7%, ante uma meta de 3%. A partir da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de fevereiro, o ano de 2024 terá peso majoritário na definição dos juros.
O processo de desancoragem das expectativas de inflação vinha sendo causado, sobretudo, pelo aumento das incertezas fiscais. A visão dominante entre os analistas é que, sem o controle das contas públicas, fica difícil controlar a inflação. Possivelmente, a mera perspectiva de aumento na meta já vinha contaminando as expectativas de inflação, ainda que com um peso menor.
Nesta manhã, analistas econômicos ouvidos pelo Valor diziam que as novas rodadas de deterioração das expectativas de inflação – se não houver um recuo do presidente Lula nas suas declarações – devem tornar menos provável um início de corte na taxa básica de juros.
O consenso é que seria muito improvável o Banco Central afrouxar o juro enquanto houver um processo de desancoragem das expectativas. Isso violaria frontalmente o manual básico de política monetária.
Muitos acham que, se a expectativa de inflação se estabilizar perto de 4,5%, que é o teto admitido no regime de metas de inflação, o Copom em tese poderia controlar a situação apenas adiando o corte de juros, hoje previsto para setembro, para o próximo ano.
Desde o segundo turno das eleições, os especialistas já vêm adiando suas apostas para o corte de juros, que até então se concentravam no mês de junho.
Mas existe uma chance de as expectativas superarem 4,5%, já que para muitos a fala de Lula trouxe de volta um fantasma do passado dos governos petistas, quando o centro da meta tinha função apenas decorativa, e o objetivo perseguido pelo BC de fato era o teto da meta. Nesse caso, o risco é as expectativas rumarem para 6%.
Nessa hipótese, parece improvável que o BC independente, comandado por Roberto Campos Neto, vá acomodar o estouro de uma hipotética meta ajustada. A aposta é que, nessas circunstâncias, o Banco Central vá retomar o ciclo de aperto monetário. Mas há muita dúvida sobre o que vai acontecer a partir de 2025, quando ele não estiver mais no cargo.
Fonte: Valor Econômico

