Por Alex Ribeiro, Valor — São Paulo
30/01/2023 10h26 Atualizado há 12 horas
As expectativas de inflação do mercado financeiro voltaram a piorar às vésperas da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que vai divulgar a sua decisão na quarta-feira. Continua a tendência de deterioração nas projeções de inflação para prazos mais curtos, puxadas em grande medida pela perspectiva de alta nos preços de combustíveis. Em prazos mais longos, o que pesa é a incerteza fiscal e os ruídos provocados por declaração do presidente Lula sobre uma possível revisão das metas de inflação.
Em uma semana, a previsão mediana dos analistas econômicos para a inflação de 2023 subiu de 5,48% para 5,74%. Em parte, esse aumento se deve à perspectiva de retirada da isenção de impostos federais sobre a gasolina a partir de março. A reabertura da economia da China também tende a colocar mais pressão na cotação do petróleo. Na semana passada, a Petrobras anunciou reajuste. A previsão para a alta de preços administrados aumentou de 7,25% para 8,39%.
Essa piora na inflação de curto prazo, porém, não deve ter um peso significativo na condução da política monetária. O Copom, a partir desta reunião, estará predominantemente focado na meta de inflação de 2024. O colegiado tem dito que sua ênfase é na inflação seis trimestres adiante, ou seja, acumulada até setembro de 2024. Até lá, o grosso dessa pressão nos preços administrados deverá se dissipar.
A questão é que as expectativas de inflação de 2024 também estão se deteriorando. Na semana, passaram de 3,84% para 3,9%. Na última reunião do colegiado, ocorrida em dezembro, estavam em 3,5%, já acima da meta, estabelecida em 3% para o ano.
Essa piora nas expectativas no chamado horizonte relevante de política monetária — ou seja, no prazo em que o Banco Central se propõe a cumprir a meta — cria um embaraço a mais para a condução da política monetária. Mas não se pode exagerar. Nas decisões do Copom, o que conta são as projeções do próprio colegiado. O BC costuma reagir, com mais aperto monetário, se suas projeções apresentam um desvio estatisticamente relevante em relação às metas.
É bem provável que a autoridade monetária siga mantendo as suas próprias estimativas abaixo das de mercado. Em dezembro, o Copom projetava uma inflação de 3% para 2024, abaixo da estimativa de mercado, de 3,5%.
A piora das expectativas de inflação do mercado deve pesar nas projeções do próprio Banco Central. O BC, além disso, pediu estimativas do mercado sobre a expansão fiscal esperada em 2023. Pela pesquisa de dezembro, a estimativa é que a despesa pudesse aumentar R$ 140 bilhões além do teto de gastos.
O Banco Central, por outro lado, não tem muitos motivos adicionais para majorar as suas projeções de inflação para 2023, já que seu cenário já contemplava a extinção dos cortes de impostos. Com isso, não se deve contar com uma carga muito mais forte de inércia inflacionária para 2024.
Mas tem fatores na direção contrária: a taxa de câmbio se apreciou desde dezembro. Além disso, o nível de juros usado no modelo de projeções do BC deverá ser bem mais alto. O BC alimenta as suas projeções com as expectativas de mercado para a taxa Selic. Em dezembro, o início do ciclo de cortes estava previsto para agosto. Agora, para novembro.
Ou seja, graças ao câmbio e ao aperto monetário que ocorre dentro do próprio modelo, mesmo com a Selic de curto prazo parada, é possível que o Copom consiga apresentar uma projeção de inflação para 2024 mais ou menos estável.
Também se deve considerar que o BC está olhando outros fatores com atenção para tomar a sua decisão. Há componentes que olham para trás, não só para frente. O Copom vem examinando com cuidado a evolução da inflação de serviços e o nível de ociosidade da economia.
A questão é como o Banco Central vai lidar com a piora percebida pelo mercado no risco fiscal e no risco de mudanças de metas de inflação, o que aumentou as projeções dos especialistas para prazos mais longos. A projeção mediana para 2025 ficou estável em 3,5% na última semana, e a expectativa para 2026 aumentou de 3,47% para 3,5%. Na reunião de dezembro, estavam perto de 3%.
A rigor, esses anos estão muito longe para influenciar a execução mais imediata da política monetária. Mas são um alerta muito forte dos riscos fiscais. Se o Banco Central disser que os riscos fiscais são preponderantes para a inflação, isso em tese demandaria mais ação na política de juros.
Mas parece algo improvável, pelo menos no curto prazo. O Banco Central tem pregado serenidade na avaliação dos riscos fiscais, por isso não se deve esperar alertas muito sonoros. Quanto às declarações de Lula sobre uma possível mudança nas metas de inflação, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, procurou baixar a fervura, dizendo que houve distorções em relação ao que foi dito.
Além disso, o risco fiscal não é a única novidade ultimamente. A taxa de câmbio andou recuando, a despeito de todo o temor do mercado sobre as contas públicas, em virtude de um cenário internacional mais favorável que o esperado. A reabertura da China está favorecendo a cotação das commodities, e o cenário para atividade e inflação em economias avançadas parece menos sombrio.
No passado, na gestão Ilan Goldfajn, o BC gostava de ver o risco fiscal dentro do seu contexto internacional. A mensagem, na época, é que o que realmente preocupava era a combinação de riscos fiscais com ambiente internacional para países emergentes.
Fonte: Valor Econômico

