Por Alex Ribeiro, Valor — São Paulo
21/09/2022 20h26 Atualizado há 14 horas
Na tentativa de evitar que os mercados intensifiquem as apostas de uma queda forte e prematura dos juros básicos, o Banco Central tenta incutir na sua comunicação os riscos de uma retomada do ciclo de aperto monetário.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central encerrou oficialmente o ciclo de alta de juros hoje, com a manutenção da taxa Selic em 13,75% ao ano. Mas deu o recado de que, para trazer a inflação para a meta, terá que manter os juros altos por um bom tempo.
O colegiado faz a indicação do tempo que os juros devem permanecer altos por meio de suas projeções de inflação. O recado do comunicado divulgado pelo Copom é que, se os juros ficarem estáveis em 13,75% ao ano até junho de 2023, como previsto pelo mercado na pesquisa Focus, a inflação vai ficar “ao redor da meta” no chamado horizonte relevante.
O ciclo de baixa de juros começaria com um corte de 0,25 ponto percentual na Selic em junho de 2023, que seria seguido por movimentos de baixa de 0,5 ponto percentual nas reuniões subsequentes.
Mas os juros negociados em mercado desafiam a estratégia desenhada pelo Banco Central. Eles precificam a queda da Selic mais para o começo de 2023, e sinalizam que a inflação continuará mais alta do que a meta por muito tempo.
Os dirigentes do Banco Central vinham se esforçando, às vésperas da reunião do Copom, para convencer o mercado de que vão manter o compromisso com a manutenção dos juros altos por um bom tempo, até que se cumpra o seu objetivo de fazer a inflação cair para a meta.
Esses recados, porém, não vinham surtindo o efeito desejado. Agora, no comunicado, o Copom dá um passo a mais na sua retórica, indicando de forma mais explicita que há chances de os juros subirem, não só de caírem.
“O comitê se manterá vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período suficientemente prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação”, diz o comunicado.
O documento vai além: “O comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”.
Apoiando a retórica mais conservadora desta reunião, há ainda dois votos dissidentes de membros do Copom, Fernanda Guardado e Renato Gomes, que queriam subir os juros mais 0,25 ponto percentual.
A rigor, o Copom nem precisaria ser tão explicito em sinalizar que há riscos iguais tanto de alta de juros quanto de baixa. Isso já está na comunicação oficial. O balanço de riscos para a inflação é simétrico, o que significa que as chances de o índice de preços superar o projetado são iguais à probabilidade de ficar abaixo. O Copom tem citado a grande incerteza do ambiente atual, o que torna mais provável uma trajetória de juros diferente da apontada no cenário básico.
São citados três riscos altistas, incluindo um novo, o estreitamento da capacidade ociosa da economia, em particular no mercado de trabalho. De outro lado, são citados três riscos baixistas para a inflação, incluindo um novo, o prolongamento dos cortes de impostos em 2023.
O mercado, certamente, já tinha ciência de que, na comunicação do Copom, os riscos de baixa de juros são equivalentes aos riscos de alta. Mas fazia pouco caso da sinalização do BC, numa aparente aposta de que o Copom vai jogar a toalha antes de terminar o serviço para desinflacionar a economia. O Copom, no comunicado, aumenta o tom para mostrar que fala sério quando diz que vai perseverar para cumprir a meta de inflação.
Fonte: Valor Econômico

