As projeções de inflação do comitê se deterioraram desde setembro. O cenário central chega a uma inflação de 4,6% neste ano, que estoura o intervalo de tolerância da meta (4,5%).
Ainda mais preocupante, houve alta, de 3,5% para 3,6%, na estimativa para a inflação no período de 12 meses até junho de 2026, que hoje é o chamado horizonte da política monetária. A meta de inflação é de 3%.
Em sua reunião anterior, o Copom estimou a inflação em 3,5%, levando em conta uma taxa Selic que, na previsão dos analistas econômicos do mercado, chegaria a um pico de 11,5% ao ano – e, já em junho, começaria a cair, fechando 2025 nos mesmos 10,5% ao ano que se encontrava no início do ciclo de aperto.
Desta vez, a conta foi feita levando em conta uma Selic que, segundo previsões do mercado financeiro, vai a um pico de 12,5% ao ano, e cai a 11,5% ao ano até o fim de 2025.
Ou seja, as projeções do Banco Central mostram que mesmo essa dose de juro mais forte prevista pelos analistas econômicos do mercado financeiro é insuficiente para colocar a inflação na meta. Seria preciso mais.
Quanto, exatamente? Nas condições atuais, o Copom teria que subir os juros em dois pontos percentuais acima do previsto pelo mercado. Isso porque, a cada ponto percentual de alta na Selic, a inflação cai um pouco menos de 0,3 ponto percentual. Ou seja, na aritmética mais fria, a taxa Selic teria que subir a 14,5% ao ano ou mais para levar a inflação para a meta no horizonte relevante de política monetária.
Em outros tempos, essa projeção de inflação deveria ser entendida como uma sinalização do Copom sobre até onde pretende subir a Selic neste ciclo de aperto monetário. Mas não dessa vez. O diretor de política econômica do BC, Diogo Guillen, disse e repetiu em outubro que desaprova essa relação mecânica entre as projeções de inflação e o tamanho do ciclo de aperto monetário.
De fato, todo o esforço de comunicação do BC tem sido para afastar a ideia de que tenha um orçamento de alta pré-definido. Sua estratégia, em meio a um ambiente com muita incerteza, é definir a trajetória de alta da Selic ao longo do caminho, a cada reunião, na medida em que surgem novas informações.
O que será feito de fato pelo Copom, ao longo do tempo, dependerá de muita coisa, como a evolução da atividade econômica e da inflação de serviços. Mas talvez o mais importante sejam o pacote fiscal que o governo promete anunciar e a política econômica do recém-eleito presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Em pronunciamento recentes, dirigentes do BC destacaram a importância de medidas estruturais do lado fiscal para aliviar do lado monetário, e não apenas a administração de receitas e despesas para cumprir as metas de curto prazo.
De fato, o cenário central do Copom já contempla a redução do impulso fiscal e, mesmo assim, chega-se a uma inflação acima da meta no horizonte relevante de política monetária.
Talvez por isso o comunicado divulgado nesta quarta-feira acrescenta um trecho que diz que “a apresentação e execução de medidas estruturais para o orçamento fiscal” vai contribuir para “a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”.
Ou seja: se vierem medidas estruturais firmes do lado fiscal, isso poderá ajudar a melhorar o cenário inflacionário e, provavelmente, a inflação projetada cai abaixo de 3,6% no período de 12 meses até junho de 2026 — o que exigiria um aperto monetário mais comedido por parte do comitê.
O aviso vale para os dois lados: se houver uma frustração grande com o fiscal que leve a uma percepção dos mercados de que o governo abandonou o arcabouço fiscal, o dólar pode subir mais ainda e a desancoragem das expectativas de inflação se agravar. Neste caso, provavelmente a projeção de inflação seria maior do que 3,6%, exigindo uma Selic ainda maior do que 14,5% ao ano ao fim do ciclo de aperto.
E o que o comunicado nos diz sobre o ritmo de alta da Selic em dezembro? O parágrafo que faz a sinalização de passos futuros é idêntico ao de setembro, que então sinalizou de forma muito indireta a possibilidade de alta de 0,5 ponto para este mês, sem assumir compromissos.
Se não vier nada de novo na ata que sai na semana que vem, o mais provável é que o Copom siga neste mesmo ritmo. Mesmo porque todo o discurso do comitê, até agora, tem sido de que, num ambiente de incerteza, é melhor caminhar de forma mais cautelosa com a Selic.

