O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, indicou nesta manhã que a política fiscal passa por uma fase de desaceleração, mas não esclareceu se esta força será grande o suficiente para dispensar novos apertos na taxa de juros.
Em evento do banco BTG Pactual, ele disse que há uma maior sincronia entre as economias mundiais – incluindo o Brasil e excluindo os Estados Unidos – na direção de uma consolidação fiscal.
“Vai ter desaceleração de fiscal em vários lugares do mundo. É menos do que os mercados gostariam um ano atrás, mas é mais do que se pensava há dois ou três meses”, disse Campos Neto. “O Brasil está numa situação meio parecida, tem uma desaceleração fiscal que está encomendada.” Para ele, a desaceleração fiscal terá efeito no crescimento e nas expectativas.
Ele tocou no tema ao responder a uma pergunta do CEO do BTG, Roberto Sallouti, sobre se a desaceleração fiscal poderia reduzir o peso do governo na demanda agregada, fazendo com que passe a crescer em linha com a capacidade de oferta da economia.
Sallouti argumentou que, até agora, os gastos vinham crescendo a uma velocidade de 10% ano, mas a perspectiva é que essa taxa de expansão caia para pouco mais de 2,5% ao ano, considerando os limites previstos no novo arcabouço fiscal e as exceções à regra decorrentes do socorro ao Rio Grande do Sul, que neste ano sofreu os impactos de fortes chuvas.
No evento, Campos Neto disse que, no curto prazo, a atividade econômica voltou a surpreender, mas evitou sinalizar a necessidade de apertos monetários adicionais para evitar que um grau de aquecimento maior do que o previsto atrapalhe os planos do Banco Central de levar a inflação para a meta.
O discurso de Campos Neto é que a economia surpreende, assim como o mercado de trabalho, que leva a um aumento de renda da população e pressão em alguns preços de serviços. Mas, segundo ele, o BC ainda não concluiu de forma definitiva que o mercado de trabalho apertado causa uma pressão generalizada e sustentada na inflação de serviços. Por isso, será preciso observar os dados econômicos que forem divulgados até a reunião do Copom de setembro, para então decidir se seria necessário ou não subir os juros.
Nos últimos meses, os economistas têm discutido porque os juros altos, que atualmente se encontram em 10,5% ao ano, estão sendo incapazes de esfriar a economia da forma prevista. Alguns dizem que isso se deve ao fato de que, ao mesmo tempo que o BC coloca o freio nos juros, o governo como o todo pisa no acelerador com uma política monetária expansionista.
A pergunta de Sallouti levanta a hipótese de que essa falta de sincronia entre as políticas monetária e fiscal esteja prestes a ser corrigida, ou pelo menos amenizada.
Há outras teorias que tentam explicar por que os juros altos não estão tendo os efeitos esperados para baixar a inflação. Algumas delas são de que, com as expectativas de inflação desancoradas, a política monetária precisa fazer um esforço maior para baixar a inflação por meio do canal da desaceleração econômica. Outras levantam a hipótese de uma taxa de juros neutra mais alta.
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Fonte: Valor Econômico

