Dois membros do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deram sinais, nos últimos dias, de certo conforto com a pressão que vem ocorrendo na inflação de serviços, o que provavelmente reforça o plano de voo para o corte na taxa básica de juros.
Hoje, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, reconheceu que a dinâmica da inflação de serviços exige atenção, mas não deu sinais de que tenha chegado ao ponto de provocar uma reavaliação do cenário. “A gente fez várias análises sobre a dinâmica de inflação de serviço e entende que não tem nada hoje que acenda nenhum tipo de luz vermelha”, disse, em um evento da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). “Mas que a gente precisa estar atento.”
Na sexta-feira, havia sido a vez do diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, fazer uma leitura do lado mais positivo da evolução da inflação de serviços. Segundo ele, o mercado financeiro teve uma leitura inicial mais preocupada com o núcleo de inflação de serviços, mas depois se acalmou ao identificar que a pressão se devia a alguns itens menos ligados ao grau de aquecimento da economia, como os reajustes de educação e planos de internet. “Então, de novo, veio uma leitura do mercado mais positiva a partir disso”, afirmou, em evento da Money Report.
Tanto Campos Neto quanto Galípolo reconheceram que houve, mais recentemente, pressão de salários e lembraram que o Copom está investigando a sua interação com a inflação de serviços, conforme foi divulgado na ata da sua ultima reunião, de janeiro. Mas ambos, cada um com as suas próprias palavras, voltaram a confirmar um quadro de convergência da inflação para a meta.
Essa reafirmação é muito importante: a sinalização de corte de juros pelo Copom depende de que, de fato, seja confirmado o cenário de queda da inflação previsto pelo comitê. Pelos cálculos mais recentes, a inflação ficará em 3,2% em 2025 se o Banco Central baixar o juro a 9% ao ano até o fim do ano. Ou seja, precisaria de um juro um pouco maior que 9% ao ano para cumprir a meta, de 3%.
E, para que o cenário se confirme, não pode se materializar nenhum dos possíveis eventos negativos descritos no balanço de riscos para a inflação. Um desses perigos é justamente “uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado”.
O Copom sinalizou baixas de juros de 0,5 ponto percentual para as suas duas próximas reuniões, e disse que vai manter a política monetária restritiva para garantir a queda da inflação para a meta e a reancoragem das expectativas. O mercado acha que vai manter essa toada por outras duas reuniões, até levar a taxa a 9,25% ao ano, em julho. Em setembro, baixaria mais uma vez, para 9%, de acordo com o boletim Focus de expectativas.
Todos esses cálculos levam em consideração que, ao longo do tempo, a inflação de serviços siga em queda, refletindo a política monetária restritiva e o menor aquecimento da economia.
O Banco Central tem evitado grandes mudanças na sua leitura sobre a inflação de serviços. No ano passado, parte dos analistas estava otimista, achando que ganhos de produtividade poderiam permitir a queda da inflação de serviços sem grandes prejuízos para a atividade econômica. Na época, a leitura do Banco Central foi que, predominantemente, a queda da inflação de serviços se devia à inércia favorável provocada pela queda a inflação de bens industriais.
No fim do ano passado, o diretor de política econômica do BC, Diogo Guillen, afirmou que, naquele momento, a inflação de serviços estava caminhando de acordo com o previsto pelos modelos de projeção do Copom.
Agora, com as surpresas negativas na chamada inflação subjacente de serviços, a preocupação está do outro lado: será que o modelo de projeção de inflação do Copom está subestimando o comportamento desse conjunto de preços? Declarações como a de Campos Neto e Galípolo são um indicativo de que, por ora, não há nada fora do que o Banco Central previa.
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— Foto: Aaron Lefler/Unsplash
Fonte: Valor Econômico

