Depois de mais uma queda nas projeções de inflação do mercado para este ano, de 3,8% para 3,76%, a batalha do Banco Central para ancorar as expectativas na meta se descola para 2025, que já é o alvo principal da política monetária.
Dois conjuntos de indicadores divulgados pelo Banco Central nesta manhã mostram que as expectativas para 2025 seguem estagnadas. A mediana das projeções do boletim Focus manteve-se em 3,51%, acima da meta, de 3%.
O mapa da distribuição das expectativas, com periodicidade mensal, mostra que no fim de fevereiro apenas 30% dos analistas esperam que a inflação vá ficar na faixa entre 2,92% e 3,46% em 2025. No mês anterior, março, esse percentual era de 29,3%.
As expectativas para 2025 vêm se mantendo praticamente congeladas desde de julho do ano passado, apesar de dois fatos que deveriam ter colaborado para a sua queda.
Um deles é que, de lá para cá, a previsão de inflação do mercado para 2024 recuou, de 3,9% para 3,76%, entre os que informaram as suas projeções ao boletim Focus nos últimos 30 dias. A mediana dos analistas que renovaram as suas projeções nos 5 dias úteis da semana passada já se encontra mais baixo, em 3,7%. Ou seja, o Banco Central partirá de uma posição mais favorável para baixar a inflação de 2025.
Outro fato que deveria levar o mercado a rever para baixo as projeções de inflação para 2025 é que o Banco Central, de forma crescente, vem colocado neste ano o foco da política monetária.
O mercado pode até achar que, no longo prazo, será difícil manter a inflação na meta, devido a incertezas sobre o compromisso do governo Lula sobre o ajuste fiscal ou dúvidas sobre as credenciais de quem vai substituir o atual chefe do BC, Roberto Campos Neto, a partir do ano que vem. Mas a inflação de 2025 está sendo combatida desde já, e os esforços atuais do BC deveriam influenciar mais as projeções do mercado.
Em agosto do ano passado, o peso do ano de 2025 na definição da Selic era de 25%. Hoje, já se encontra em 75%. Dentro de duas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), o peso será de 100%. O Banco Central mira um horizonte tão distante porque leva tempo para a taxa de juros se transmitir pela economia para afetar a inflação.
Quando o mercado mantém inalterada a sua previsão de inflação para 2025, de certa forma está dizendo para o Banco Central que a sua política monetária será insuficiente para aproximar mais a inflação da meta.
O curioso é que, ao mesmo tempo, o mercado projeta cortes de juros mais profundos do que o sinalizado nas projeções de inflação do Banco Central. Na sua última ata, o Copom disse que, se o juro cair para 9% ao ano até o fim de 2024, como previsto pelo mercado, a inflação ficará em 3,2% no ano que vem, portanto acima da meta. Isso significa que, no cenário traçado pelo Copom em janeiro, o juro teria que ficar acima de 9% ao ano ao fim de 2024 para garantir o cumprimento da meta de 2025.
A distribuição das expectativas do mercado, porém, mostra que apenas 30,6% dos analistas esperam que o BC seja duro como indicado nas projeções de inflação, deixando a taxa Selic na faixa entre 9,25% a 9,75%.
O diretor de política monetária do BC, Gabriel Galípolo, levantou recentemente a hipótese de que, dentro em breve, as projeções de inflação do mercado para 2025 vão começar a se mexer. Segundo ele, só no segundo trimestre os analistas econômicos devem começar a pensar com mais profundidade sobre a inflação do ano seguinte.
De fato, apesar de o Banco Central ter alongado o seu horizonte, a maior parte do mercado financeiro só começa a refazer as suas contas, de fato, com atraso. Essas reestimativas são muito influenciadas pelo comportamento da inflação corrente.
Os analistas também costumam refletir, com algum atraso, a queda das inflações implícitas em títulos públicos negociados em mercado. Campos Neto voltou a repetir ontem, em evento da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), que essas inflações implícitas estavam caindo mais recentemente, com exceção da previsão para 2027.
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O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto — Foto: Andre Coelho/Bloomberg
Fonte: Valor Econômico

