As expectativas de inflação do mercado financeiro para o ano que vem voltaram a se deteriorar, subindo de 3,9% para 3,96%, colocando mais pressão no Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central às vésperas de sua reunião de julho.
Com projeções do setor privado cada vez mais altas, fica mais difícil o colegiado convencer o mercado financeiro de que a simples manutenção da taxa básica de juros é suficiente para cumprir a meta de inflação de 3% em 2025. O mercado precifica altas de juros a partir de novembro.
Desde o mais recente encontro, de junho, as projeções de inflação do mercado financeiro acumulam uma alta de 0,16 ponto percentual, apesar da indicação dos membros do Copom de que estão unidos em uma estratégia mais conservadora.
A piora adicional das expectativas, porém, deve ser analisada com algum cuidado. Em parte, era esperada. As expectativas de inflação costumam ter uma certa inércia, ou seja, demoram para desacelerar, parar ou mudar de direção em resposta a fatos novos.
Isso ocorre porque as expectativas representam a visão mediana do conjunto de analistas de mais de 200 instituições financeiras, e algumas delas levam mais tempo do que as outras para ajustar as suas projeções individuais.
O ano de 2025 também está próximo o suficiente para ser contaminado pela evolução da inflação corrente. Desde a reunião de junho, os analistas reviram a sua projeção de inflação para 2024 de 4% para 4,1%, e isso acaba contaminando o índice de preços do ano seguinte. Reajuste de combustíveis e alta do dólar devem ter pesado nessa revisão.
O mais importante talvez seja o fato de que as expectativas de inflação para 2026 pararam de piorar desde fins de maio, embora estejam mais altas (3,6%) do que a meta (3%). Apenas a partir da reunião desta semana o Copom vai incluir o ano de 2026 no seu horizonte relevante.
As projeções para os anos de 2027 em diante seguem estacionadas em 3,5%, também acima da meta de 3%, mas sem piora adicional. As expectativas para prazos mais longos são o principal termômetro da credibilidade da política monetária.
Isso não quer dizer que a piora nas expectativas para 2025 não tenha nada a ver com problemas na credibilidade do Banco Central, que se esforça para colocar a inflação na meta em um ambiente bastante desfavorável.
O cenário externo para países emergentes piorou nas últimas semanas, os analistas econômicos consideraram insuficiente o congelamento de despesas para o cumprimento da meta fiscal deste ano e ainda há muita dúvida se o presidente do Banco Central a ser nomeado pelo governo Lula terá autonomia de fato para perseguir a meta de inflação.
A alta adicional da projeção para 2025, porém, coloca uma dificuldade caso o Copom queria, mais uma vez, sinalizar que a manutenção dos juros em 10,5% é suficiente para levar o índice de preços para a meta (também de 3%) no ano que vem.
Em junho, o Copom divulgou uma projeção alternativa de inflação que mostrava que, se não cortar os juros em 2025, a inflação ficaria em 3,1%. Em tese, as projeções do Banco Central deveriam ser influenciadas pelos mesmos fatores negativos que levaram os analistas privados a rever as suas projeções.
Fonte: Valor Econômico

