/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2024/B/S/slbAA6QOC2AVcKGDq1eg/arte14int-101-cepal-a10.jpg)
A América Latina vive uma nova “década perdida”, com um crescimento econômico inferior ao dos anos 1980, segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). Em relatório divulgado ontem, o órgão ligado à ONU alertou que a região sofre os impactos gerados pelo ambiente de incerteza generalizado ao redor do mundo, em meio a conflitos globais e medidas protecionistas das principais economias mundiais.
“Passamos uma década de crescimento praticamente nulo”, disse o secretário-executivo da Cepal, José Manuel Salazar-Xirinachs, durante a entrevista coletiva na qual apresentou o relatório.
Neste ano, a América Latina deverá crescer 1,7%. Para 2025, a Cepal projeta uma melhora no crescimento, de 2,3%, puxada por um aquecimento das economias dos países da América do Sul.
A Cepal estima um crescimento médio de apenas 0,9% na América Latina no período 2015-2024, como resultado da baixa produtividade do trabalho, falta de investimentos e um espaço fiscal limitado para implementação de políticas macroeconômicas para reativação da economia, bem como pela incerteza global. Esse resultado é bem inferior ao crescimento médio da década de 1980, de 2%.
“Para superar essa armadilha do baixo crescimento e criar empregos de qualidade, os governos precisam articular políticas macroeconômicas e de desenvolvimento produtivo que estimulem o investimento e a produtividade, e permitam alcançar crescimento inclusivo e sustentável”, aponta o relatório da Cepal.
A agência estima que a América do Sul pode crescer 1,5% este ano, uma leve queda em relação à alta de 1,6% em 2023, enquanto a América Central e o México devem expandir 2,2%, uma queda em relação ao crescimento de 3,2% registrado no ano passado. Já o Caribe, excluindo a Guiana, deve crescer 2,6% frente aos 2,9% de 2023, de acordo com o relatório.
A perspectiva para este ano é de uma leve deterioração do balanço de pagamento da região, que deve ser negativo, equivalente a 1,7% dos Produto Interno Bruto (PIB), em meio ao crescimento e comércio globais ainda frágeis, e taxas de juros globais elevadas por mais tempo do que o esperado, resultando em um dólar mais forte, aponta a Cepal.
Além dos problemas internos, a região deverá sofrer com os impactos dos conflitos geopolíticos, provocando possíveis disrupções nas cadeias de suprimento globais e aumento no preço dos alimentos e consequentemente da inflação.
A desaceleração da atividade econômica na região nos primeiros meses de 2024 deveu-se principalmente a problemas internos de suas principais economias, como a diminuição do consumo privado na Argentina, a queda dos investimentos na Colômbia, a queda do consumo das famílias no Brasil e o declínio nas atividades de produção de alimentos no México devido ao clima, disse o relatório.
Para o Brasil, a agência prevê crescimento de 2,3% neste ano e 2,1% em 2025 – a piora se deve a condições climáticas desfavoráveis para a produção agrícola.
Somam-se aos fatores internos os desafios do cenário externo, onde a “combinação de tensões geopolíticas, medidas restritivas comerciais, conflitos regionais, peso da dívida e crises setoriais” configuram um “cenário de elevada incerteza e risco” e podem impactar severamente o região, diz a Cepal.
A Cepal também expressou preocupação com a estagnação dos níveis de investimento, que continuaram a diminuir em meio à fraca confiança no setor empresarial. Da mesma forma, destacou a desaceleração na criação de empregos como um dos principais desafios para uma expansão mais vigorosa da região.
Só no primeiro trimestre de 2024, a taxa de crescimento do número de pessoas ocupadas nas economias da América Latina e do Caribe diminuiu 1,9 ponto percentual em relação ao observado em igual período de 2023, o nível mais baixo registrado desde o primeiro trimestre de 2022. “Esta última década foi a mais baixa em criação de empregos dos últimos 70 anos”, disse Salazar-Xirinachs. (Com agências internacionais)
Fonte: Valor Econômico

