Por Yuka Hayashi, Dow Jones — Washington
26/09/2023 15h04 Atualizado há 17 horas
A China se tornou um lugar ainda mais inóspito para empresas americanas, segundo o Conselho de Negócios EUA-China recente.
A escalada das tensões bilaterais afeta vários aspectos das operações das empresas americanas na China, como prejuízos em vendas, quedas dos lucros e cancelamentos ou adiamentos de investimentos, apurou o conselho entre suas empresas-membros.
As empresas pessimistas sobre suas operações na China para os próximos cinco anos alcançaram nova alta recorde de 28% na pesquisa fechada pela entidade nos últimos dias — no ano passado, eram 21%. As otimistas caíram para a baixa também recorde de 49%.
Mais de 33% das empresas consultadas disseram que reduziram ou suspenderam os investimentos planejados para a China nos últimos 12 meses, uma alta bem superior às 22% da pesquisa do ano passado, que sinaliza novas quedas na presença comercial americana nos próximos anos. Essas decisões foram atribuídas ao aumento de custos e incertezas embutidos na iniciativa de operar na China, além de maiores restrições sobre a venda de produtos no mercado chinês.
A consulta anual baseou-se em questionários enviados em junho e julho às 117 empresas-membros da entidade, 39% das quais informaram ter obtido ao menos US$ 1 bilhão em receita gerada na China.
“A maioria das empresas continua lucrativa na China e reconhece a importância do mercado chinês para sua competitividade global”, disse o grupo. “O ritmo de recuperação do sentimento das empresas americanas e futuros investimentos dependerão das decisões de autoridades da China e dos EUA.”
Muitas empresas americanas tinham previsto que seus negócios se recuperariam neste ano, após um longo período de rígidas restrições da pandemia de covid-19. Em vez disso, enfrentaram uma recuperação lenta na economia chinesa e obstáculos causados por tensões geopolíticas, entre as quais a adoção de políticas domésticas mais rígidas na China vinculada à rivalidade bilateral.
Para impedir o uso, pela China, de tecnologia avançada para fins militares, Washington impôs no ano passado limites rigorosos a semicondutores avançados e equipamentos para a produção deles.
A medida da China em retaliação foi limitar as exportações de insumos essenciais para a produção de semicondutores e aumentar as pressões sobre empresas americanas como a Micron Technologia, e empresas que fazem “due diligence” (auditoria técnica e contábil dos ativos) para investidoras americanas.
Neste levantamento mais recente, 43% das consultadas disseram que o ambiente de negócios da China se deteriorou nos últimos 12 meses. Comparativamente a três anos atrás, 83% das empresas notificaram quedas de sentimento.
Um levantamento realizado entre 31 de maio e 30 de junho pela Câmara Americana de Comércio em Xangai apurou que pouco mais de metade dos 325 membros consultados estão otimistas com elação à perspectiva comercial dos próximos cinco anos, o nível mais baixo desde 1999, quando a consulta começou a ser realizada.
Mais de metade das empresas ouvidas pelo Conselho de Negócios disse ter perdido vendas em razão da incerteza dos clientes sobre o fornecimento, devido às tensões comerciais entre EUA e China, enquanto 33% disseram ter perdido vendas com o abandono de seus produtos pelos clientes chineses em meio ao clima de crescente nacionalismo.
Adiamento ou cancelamento de investimentos na China, mudanças nas cadeias de suprimentos e intensificação do monitoramento pelas autoridades reguladoras foram todos traços vivenciados por aproximadamente 33% das empresas consultadas.
As companhias têm sido especialmente atribuladas pela amplitude cada vez maior das regras da China com relação a dados, informações pessoais e cibersegurança, com 97% das consultadas tendo citado essas preocupações.
Fonte: Valor Econômico

