O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central afirma, em ata divulgada na manhã desta terça-feira (25), que espera o repasse da valorização recente dólar aos preços industriais no varejo nos próximos meses e que a alta de preços de alimentos deve se propagar para outros setores.
“Com relação aos bens industrializados, o movimento recente do câmbio pressionou preços e margens, já materializado em elevação dos preços no atacado, sugerindo ainda repasse para os preços no varejo nos próximos meses”, diz o documento.
O Copom diz ainda que “os preços de alimentos mantêm-se elevados e tendem a se propagar para outros preços no médio prazo em virtude da presença de importantes mecanismos inerciais da economia brasileira”.
Nos preços de serviços, o comitê nota que ela tem maior inércia, segue acima do nível compatível com o cumprimento da meta e “acelerou nas observações mais recentes, em contexto de hiato positivo”.
No conjunto, o cenário de inflação no curto prazo segue adverso, diz o comitê. “Foi destacado, na análise de curto prazo, que, em se concretizando as projeções do cenário de referência, a inflação acumulada em doze meses permanecerá acima do limite superior do intervalo de tolerância da meta por seis meses consecutivos, contados desde janeiro deste ano”, diz a ata.
O Copom voltou a dizer que, “com a inflação de junho deste ano, configurar-se-ia descumprimento da meta sob a nova sistemática do regime de metas”.
Na semana passada, o Copom subiu os juros básicos de 13,25% ao ano para 14,25% ao ano, e indicou um próximo aumento de menor magnitude.
O Copom reforçou também, na ata, que decidiu comunicar três coisas na reunião da semana passada: que o ciclo de aperto monetário inão está encerrado, que a próxima alta seria de menor magnitude e indicar apenas a direção do próximo movimento.
“O Comitê, em sua comunicação, optou por conjugar três sinalizações sobre a condução de política monetária, caso se confirme o cenário esperado”, afirma a ata.
“Primeiramente, julgou que, em função do cenário adverso para a dinâmica da inflação, era apropriado indicar que o ciclo não está encerrado”, segue.
“Em segundo lugar, em função das defasagens inerentes ao ciclo monetário em curso, o Comitê também julgou apropriado comunicar que o próximo movimento seria de menor magnitude.”
E , por fim, afirma que “além disso, diante da elevada incerteza, optou-se por indicar apenas a direção do próximo movimento”.
Expectativas desancoradas
Na ata, o Copom também destacou que um cenário de expectativas desancoradas para prazos mais longos torna o cenário de convergência da inflação para a meta mais desafiador, o que “exige uma restrição monetária maior e por mais tempo do que outrora seria apropriado”. A avaliação consta na ata da última reunião, que foi divulgada nesta terça-feira.
“O cenário de convergência da inflação à meta torna-se mais desafiador com expectativas desancoradas para prazos mais longos e exige uma restrição monetária maior e por mais tempo do que outrora seria apropriado”, diz a ata.
No documento, o colegiado também apontou que as expectativas de inflação medidas por diferentes instrumentos e coletadas de vários grupos de agentes, seguiram subindo “em todos os prazos” e que indicam uma desancoragem adicional. Segundo o colegiado, esse cenário torna o cenário de inflação “mais adverso”.
“A desancoragem das expectativas de inflação é um fator de desconforto comum a todos os membros do Comitê e deve ser combatida. Foi ressaltado que ambientes com expectativas desancoradas aumentam o custo de desinflação em termos de atividade”, descreve o documento.
“Prospectivamente, o Comitê acompanhará o ritmo da atividade econômica, fundamental na determinação da inflação, em particular da inflação de serviços; o repasse do câmbio para a inflação, após um processo de maior volatilidade da taxa de câmbio; e as expectativas de inflação, que apresentaram desancoragem adicional e são determinantes para o comportamento da inflação futura”, diz o colegiado, na ata.
“Enfatizou-se que os vetores inflacionários seguem adversos, como hiato do produto positivo, a inflação corrente mais elevada e as expectativas de inflação mais desancoradas”, diz o Copom.
Dados incipientes
A ata do Copom ressaltou ainda que dados dos últimos meses dão sinais de uma “incipiente moderação do crescimento”, mas ressaltou que ainda se deve ter parcimônia nas conclusões acerca do tema da atividade econômica.
No documento, o Copom apontou que o cenário-base envolve uma desaceleração da atividade econômica e que esse movimento é parte do processo de transmissão da elevação dos juros e “elemento necessário para a convergência da inflação à meta”.
“O Comitê seguirá acompanhando a atividade econômica e reforça que o arrefecimento da demanda agregada é um elemento essencial do processo de reequilíbrio entre oferta e demanda da economia e convergência da inflação à meta”, destacou na ata.
Dessa forma, o colegiado destacou esses sinais de incipiente moderação estão em linha com o cenário-base do comitê e ainda reforçou “que alguns indicadores mais recentes, como de serviços, indústria ou população ocupada têm indicado moderação de crescimento após extraordinária resiliência no mercado de trabalho e na atividade econômica”.
O Copom então destacou que o Produto Interno Bruto (PIB) ajustado sazonalmente cresceu 0,2% no último trimestre do ano passado contra crescimento de 1,3% no segundo trimestre e 0,7% no terceiro. “Na mesma base de comparação, do lado da demanda agregada, houve redução do consumo das famílias, após uma sequência de treze aumentos consecutivos”, destacou a ata.
Ao reforçar a necessidade de parcimônia nas conclusões sobre o tema da atividade, o colegiado destacou elementos do passado, presente e futuro. No caso do passado, o Copom apontou que os dados estão sujeitos a revisões e sazonalidades. Na ata anterior, da reunião de janeiro, o colegiado destacava que os dados na época eram de alta frequência e demandavam uma cautela na análise por conta da sazonalidade e revisões.
Já para o presente, o colegiado destacou que existem “dados mistos contemporâneos que não são uníssonos em uma direção”. Para o futuro, o Copom destacou que se prevê um “forte crescimento agrícola no primeiro trimestre com possíveis desdobramentos para outros setores”.
A ata ainda tratou dos dados de percepção, como indicadores de confiança e pesquisas de sentimento de crédito. O Copom destacou que esses dados sugerem uma desaceleração maior do que a observada nos dados objetivos. “Mais ainda, os dados objetivos coincidentes têm apresentado resultados mistos a depender do setor ou da pesquisa”, apontou o documento.
O comitê ainda pontou que se observa uma redução na margem da população ocupada, mas em um cenário de desemprego baixo e rendimentos elevados. “Ainda que dados recentes sugiram alguma moderação, o mercado de trabalho permanece aquecido”.
Fonte: Valor Econômico

